Bramedite - Conselho Brahman a serviço de Iehouah - Swami Vivekananda, Baruch Espinoza, Ralph Waldo Emerson, Vernon Howard.
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SWAMI VIVEKANANDA - Wikipédia
Swami Vivekananda
Swami Vivekananda স্বামী বিবেকানন্দ | |
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Conhecido(a) por | Principal discípulo de Sri Ramakrishna e primeiro monge hindú a difunir a filosofia da yoga e Vedanta no ocidente. |
Nascimento | 12 de janeiro de 1863 Calcutá, Bengala,Índia |
Morte | 4 de julho de 1902 (39 anos) Belur Math próximo a Calcutá |
Escola/tradição | Vedanta |
Ideias notáveis | "Levantem-se, oh Leões, e abandonem a ilusão de que são ovelhas; vocês são almas imortais, espíritos livres, abençoados e eternos; vós não sois a matéria, vós não sois corpos; a matéria é sua serva, e não vocês, os servos da matéria."[1] |
Religião | Hinduísmo |
Website | www.vedanta.org.br |
Assinatura | |
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Swami Vivekananda (em bengali: স্বামী বিবেকানন্দ, Shami Bibekānondoⓘ; em hindi: स्वामी विवेकानन्द (12 de Janeiro de 1863 – 4 de Julho de 1902), nascido Narendranath Dutta (em bengali: নরেন্দ্রনাথ দত্ত)[2] foi o principal discípulo do místico do século XIX Sri Ramakrishna Paramahamsa e fundador da Ordem Ramakrishna.[3] É considerado uma figura-chave na introdução do Vedanta e do Yoga no Ocidente, sobretudo na Europa e América.[3] É também creditado pelo crescimento da consciência inter-religiosa, trazendo o hinduísmo para o status de uma das principais religiões do mundo a partir do final do século XIX.[4] Vivekananda é considerado uma força maior no reflorescimento do Hinduísmo na Índia moderna.[5] É muito conhecido por seu inspirador discurso, iniciado com "irmãs e irmãos da América",[6][7] no Parlamento das Religiões do Mundo, em Chicago, 1893.[2]
Os pais do Swami tiveram influência em seu pensamento — o pai por sua mente racional; a mãe por seu temperamento religioso. Narendranath, desde a infância mostrara inclinação para a espiritualidade e realização Divina. Enquanto procurava por alguém que pudesse lhe mostrar diretamente a realidade de Deus, veio a conhecer Sri Ramakrishna, tornando-se seu discípulo. Como seu Guru, Ramakrishna ensinou-lhe Advaita Vedanta (não-dualismo) e que todas as religiões são verdadeiras; também mostrou-lhe que o serviço ao homem era a forma mais efetiva de adorar a Deus. Depois da morte de seu Guru, Vivekananda tornou-se monge errante, caminhando pelo subcontinente indiano e vendo, face a face, a condição indiana.
Mais tarde navegou para Chicago e representou a Índia como delegado no Parlamento das Religiões do Mundo. Orador eloquente que era, Vivekananda foi convidado a diversos fóruns nos EUA e falou em diversas universidades e clubes. Ele conduziu centenas de aulas e palestras, públicas e privadas, disseminando a Vedanta e a Yoga na América, Inglaterra e em alguns outros países na Europa. Também estabeleceu as "Vedanta Societies" (Sociedades de Vedanta) nos EUA e na Inglaterra. Mais tarde partiu de volta para Índia e, em 1897, fundou a Ordem Ramakrishna, com suas duas organizações irmãs, a Ramakrishna Mission, com trabalhos filantrópicos e outra, Ramakrishna Math, a comunidade monástica. Ambas adotam como lema a autorrealização e o serviço ao mundo.
Biografia
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Parte da série sobre o |
Hinduísmo |
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Conceitos[Expandir] |
Denominação hindu[Expandir] |
Divindades[Expandir] |
Nascimento e Infância
Swami Vivekananda nasceu em Shimla Pally, Calcutá, em 12 de Janeiro de 1863, durante o festival Makara Sankranti, em uma tradicional família Kayastha,[8] e recebeu o nome Narendranath Dutta.[9] Seu pai, Vishwanath Dutta era advogado e tinha um posto na Alta Corte de Calcutá. Era visto como generoso e tinha uma visão progressiva em questões sociais e religiosas.[10] Sua Mãe Bhuvaneshwari Devi era piedosa e havia praticado austeridades e orado a Vireshwar, o Shiva de Varanasi, para dar-lhe um filho. De acordo com o relato, teve um sonho em que Shiva levantou-se de sua meditação e disse que lhe daria um filho.[8]
O pensamento e a personalidade de Narendranath foram influenciados por seus pais — a mãe por seu temperamento religioso e o pai por sua mente racional.[11][12] Da sua mãe ele aprendeu a força do auto controle.[12] Um dos dizeres de sua mãe que Narendra muito citava nos últimos anos deste era: "Permanece puro por toda sua vida; guarda tua honra e nunca transgrida a honra de outros. Sê muito tranquilo, mas quando necessário, endureça o coração".[9] Relata-se que era adepto da meditação e podia entrar no estado de samadhi.[12] Do mesmo modo diz-se que ele via uma luz enquanto caia no sono e também que tivera uma visão de Buddha durante sua meditação.[13] Na infância, tinha grande fascinação por monges e ascetas errantes.[12]
Narendranath tinha saberes variados, uma ampla gama de conhecimentos em filosofia, religião, história, ciências sociais, entre outros temas.[14] Demonstrou também muito interesse nas Escrituras: Vedas, Upanishades, Bhagavad Gita, Ramayana, Mahabharata e Puranas. Era também versado em música clássica, tanto vocal como instrumental e, diz-se, passou por treinamento junto a dois Ustads — título honorífico a músicos reconhecidos, na Índia — Beni Gupta and Ahamad Khan.[15] Desde a infância ele teve um ativo interesse em esportes, exercícios físicos e outras atividades organizacionais.[14] Mesmo quando novo, questionou a validade de costumes supersticiosos, como a discriminação de casta.[16] Recusou-se a aceitar qualquer coisa sem prova racional e teste pragmático.[11]
Quando, em 1877, seu pai mudou-se para Raipur, por dois anos, Narendranath, com sua família, deslocou-se também para lá. Nesta época não havia boas escolas em Raipur, então ele passou seu tempo junto a seu pai e puderam discutir assuntos espirituais. Narendranath aprendeu Hindi em Raipur e, pela primeira vez, a questão sobre a existência de Deus surgiu em sua mente. É dito que neste período de sua vida teve uma experiência de êxtase espiritual. A família retornou a Calcutá em 1879; acredita-se, no entanto, que aqueles foram dois anos decisivos em sua vida. Raipur é algumas vezes considerado como o "local de nascimento" de Swami Vivekananda.
Colégio e Brahmo Samaj
Narendranath começou sua educação em casa mesmo e, mais tarde, integrou a "Metropolitann Institution" de Ishwar Chandra Vidyasagar em 1871[17] e, em 1879, passou no exame de entrada para o Presidency College, de Calcutá, ficando por um curto período e logo depois mudando-se para General Assembly's Institution.[18] Ao longo do curso estudou a lógica e filosofia ocidental, além de história das nações européias.[16] Em 1881 ele passou no exame de "Fine Arts", ingressando em seu bacharelado, e em 1884 foi graduado como Bacharel de Artes.[19][20] Narendranath estudou os escritos de David Hume, Immanuel Kant, Johann Gottlieb Fichte, Baruch Spinoza, Georg W. F. Hegel, Arthur Schopenhauer, Auguste Comte, Herbert Spencer, John Stuart Mill, e Charles Darwin.[21][22] Narendra tornou-se fascinado com o evolucionismo de Herbert Spencer, e traduziu seu livro "On Education" para o Bengali para Gurudas Chattopadhyaya, seu editor. Narendra chegou a se corresponder com Herbert Spencer por algum tempo.[23][24]
Ao lado com seus estudos dos filósofos ocidentais, ele teve um contato profundo com as escrituras indianas em Sânscrito e com muitos trabalhos em Bengali.[22] De acordo com seus professores, o estudante Narendranath era um prodígio. Dr. William Hastie, diretor do "Scottish Church College", faculdade onde ele estudou de 1881 a 1884, escreveu, "Narendra é de fato um gênio. Eu viajei por toda a parte mas nunca travei contato um rapaz com tantos talentos e possibilidades, nem mesmo nas universidades alemãs, entre os estudantes de filosofia".[21] Ele era tido como um srutidhara — um homem de prodigiosa memória.[25][26] Depois de discutir com Narendranath, Dr. Mahendralal Sarkar teria dito, "Eu nunca poderia imaginar que um rapaz tão jovem teria lido tanto!"[27] Narendranath tornou-se membro de um grupo que se originou de uma dissidência com Brahmo Samaj, um influente movimento religioso na Índia. Suas crenças iniciais foram modeladas pelos conceitos do Brahmo Samaj, que incluíam a crença em um Deus sem forma e a desaprovação da adoração de ídolos.[28]
Não satisfeito com seu conhecimento filosófico, ele se indagava se Deus e religião poderiam fazer parte das experiências de crescimento do homem e ser profundamente internalizadas. Narendra começou a perguntar às pessoas eminentes de Calcutá se estas haviam visto Deus face a face.[29] Com nenhuma delas conseguiu respostas que satisfizessem sua profunda inquietação a respeito do tema.[30] Tomou conhecimento de Ramakrishna em uma aula de literatura na "General Assembly's Institution", quando ele ouviu o Reverendo W. Hastie abordando um poema de William Wordsworth — chamado "The Excursion" (A Excursão) — e a natureza mística do poeta.[31] Enquanto explicava a palavra transe no poema, Hastie disse a seus estudantes que, se estes desejavam conhecer o seu real significado, deveriam ir a Ramakrishna, de Dakshineswar. Isso instigou alguns de seus estudantes, incluindo Narendranath a visitar Ramakrishna.[18][32][33]
Com Sri Ramakrishna

"O toque mágico do Mestre naquele dia imediatamente trouxe uma maravilhosa mudança em minha mente. Eu fiquei pasmo por descobrir que de fato não havia nada no mundo a não ser Deus!... Tudo que eu via mostrava-se como Brahman... Eu percebi que deveria ter tido um vislumbre do estado de Advaita. Então fiquei perplexo de saber que as palavras das escrituras não eram falsas. Desde então eu não poderia negar as conclusões da filosofia de Advaita."[34]
Seu encontro com Ramakrishna em Novembro de 1881 mostrou-se um momento decisivo em sua vida. Sobre este dia, Narendranath relatou: "Ele, [Ramakrishna], parecia um homem comum, sem nada de extraordinário. Ele usava a mais simples linguagem e pensei: 'Pode este homem ser um grande professor?' — Eu me movi em sua direção e perguntei-lhe a questão que estivera fazendo a outros por toda a minha vida: ‘Você acredita em Deus, senhor?’ ‘Sim', ele respondeu. ‘Pode provar isto, senhor?’ ‘Sim.’ ‘Como?’ ‘Porque eu O vejo assim como vejo você, só que muito mais intensamente.’ Isto me impressionou na hora. (…) Eu comecei a ir àquele homem, dia após dia, e, de fato, vi que religião poderia ser dada. Um toque, um olhar, pode mudar toda uma vida".[35] Mesmo que Narendra não tenha aceito Ramakrishna como seu Guru inicialmente e tenha se colocado contra suas idéias, ele foi atraído por sua personalidade e o visitava frequentemente.[36] Inicialmente olhava para os seus êxtases e visões como "mera imaginação",[11] como "mera alucinação".[37]
Como membro do Brahmo Samaj, ele se revoltava contra a adoração de ídolos e o politeísmo, e a adoração de Ramakrishna a Kali.[38] Ele, inclusive, não aceitava a ideia de Advaita Vedanta de identidade com o Absoluto, tratando-a como blasfêmia e loucura, fazendo, muitas vezes, graça com o conceito[37] Embora de início Narendra não pudesse aceitar Ramakrishna e suas visões, ele não podia negá-las também. Sempre fora a natureza de Narendra testar algo duramente antes que pudesse aceitá-lo. Ele testou Ramakrishna, que nunca pediu a Narendra para abandonar sua racionalidade, e encarou todos os argumentos e testes de Narendra com paciência — "Tente ver a verdade de todos os ângulos" era sua resposta.[36]
Ao longo dos 5 anos de treinamento junto a Ramakrishna, Narendra foi transformado em um homem maduro, pronto a renunciar a tudo pela realização divina. No decorrer do tempo, Narendra aceitou Ramakrishna como seu Guru, e quando isto se deu, sua aceitação foi de todo coração e com completa entrega como discípulo.[36] Influenciado por sua educação inglesa, antes não conseguia aceitar que um homem pudesse ser de fato um Guru, mas sim um professor de assuntos espirituais. Em 1885, Ramakrishna sofreu de um câncer na garganta e mudou-se para Calcutá. Mais tarde foi para Cossipore. Narendra e seus irmãos discípulos cuidaram de Ramakrishna nos dias finais (de seu corpo). A educação espiritual sob tutela de Ramakrishna, portanto, continuou lá. Em Cossipore, relata-se que Narendra teve uma experiência de Nirvikalpa Samadhi[39], um dos mais elevados estados alcançados em meditação.
Nos últimos dias de Ramakrishna, Vivekananda e alguns outros discípulos receberam a roupa ocre, característica dos monges Hindus, e vieram a formar a primeira ordem monástica de Ramakrishna.[40] Vivekananda foi ensinado que servir ao homem é a forma mais efetiva de servir a Deus. Relata-se que quando Vivekananda duvidou do fato de Ramakrishna ser um avatar, este teria lhe dito: "Aquele que foi Rama, Aquele que foi Krishna, Ele mesmo agora é Ramakrishna neste corpo".[41] Nos seus últimos dias Ramakrishna pediu a Vivekananda que tomasse conta dos outros discípulos monásticos; a estes, por sua vez, pediu que tomassem Vivekananda como seu líder.[42] A condição de Ramakrishna piorou gradualmente e ele deixou o corpo no começo da manhã de 16 de agosto de 1886, entrando em Mahasamadhi.
Monastério de Baranagar
Depois da partida de seu mestre, os discípulos monásticos liderados por Vivekananda se organizaram em uma casa em Baranagar, perto do rio Ganges, com ajuda financeira dos discípulos chefes de família. Isto acabou se tornando o primeiro monastério dos discípulos que constituíram a Ordem Ramakrishna. A casa, que estava em más condições, foi escolhida devido ao baixo aluguel e proximidade com o local onde Ramakrishna foi cremado. Narendra e os outros membros da Ordem frequentemente passavam seu tempo em meditação, discussões sobre diferentes filosofias e ensinamentos dos professores espirituais, incluindo Ramakrishna, Adi Shankara, Ramanuja, e Jesus Cristo.[43] Foi da seguinte forma que Narendra lembrou dos primeiros dias no monastério: "Nós nos submetemos a uma intensa prática espiritual na Ordem de Baranagore. Costumávamos acordar às 03h00 e ficar absorvidos em japa e meditação. Quão forte era o espírito de desapego que tínhamos naqueles dias! Nós não tínhamos pensamentos mesmo sobre se o mundo existia ou não".[43] No início de 1887, Narendra e oito outros discípulos tomaram votos monásticos formais. Narendra tomou o nome de Swami Vivekananda. Mais tarde foi coroado com o nome Vivekananda por Ajith Singh, o Maharaja de Khetri.[44]
”Parivrâjaka” — Vida de monge errante
Em 1888, Vivekananda deixou o monastério como um Parivrâjaka — a vida religiosa de um monge errante Hindú. "Sem residência fixa, sem laços que o prenda, independente e desconhecido em qualquer lugar onde for".[46] Suas únicas posses eram um kamandalu (pote de água), um bastão e seus dois livros favoritos — Bhagavad Gita e A Imitação de Cristo.[47] Narendranath viajou por toda a Índia por 5 anos, visitando importantes centros de aprendizado, familiarizando-se com diversas tradições religiosas e diferentes modos de vida.[48][49] Ele desenvolveu uma compaixão pelo sofrimento e pobreza das massas e tomou a firme determinação de elevar a nação.[48][50] Vivendo sobretudo em Bhiksha ou esmolas, Narendranath viajou a maior parte a pé e com tickets de trem comprados por seus admiradores, conhecidos ao longo das viagens. Durante estas viagens ele travou contato e ficou com estudiosos, Dewans, Rajas e pessoas de todos os caminhos — Hindús, Muçulmanos, Cristãos, Párias e oficiais do governo.[50]
Norte da India
Em 1888, ele iniciou sua jornada em Varanasi. Lá conheceu o pandit e escritor Bengali Bhudev Mukhopadhyay e Trailanga Swami, famoso santo que vivia em um templo de Shiva. Lá ele também conheceu Babu Pramadadas Mitra, notável erudito de sânscrito, para quem o Swami escreveu diversas cartas pedindo seu conselho na interpretação das escrituras hindús.[51] Depois de Varanasi ele visitou Ayodhya, Lucknow, Agra, Vrindaban, Hathras e Rishikesh. Em Hathras ele conheceu Sharat Chadra Gupta, o gerente de estação de trem, que mais tarde se tornou um de seus primeiros discípulos, vindo a se chamar "Sadananda".[52][53]
Entre 1888-1890, ele visitou Vaidyanath, Allahabad. De Allahabad, ele visitou Ghazipur, local em que conheceu Pavhari Baba, um Asceta da Advaita Vedanta que passou a maior parte de seu tempo em meditação.[54] Entre 1888-1890, ele retornou à Ordem em Baranagore poucas vezes devido a problemas de saúde e para conseguir fundos quando Balaram Bose e Suresh Chandra Mitra, os discípulos de Sri Ramakrishna que subsidiavam a Ordem, tinham deixado seus corpos.[53]
Os Himalayas
Em Junho de 1890, acompanhado por seu irmão discípulo, Swami Akhandananda, ele continuou sua jornada como um monge errante e retornou à Ordem apenas depois de sua visita ao Ocidente.[53][55] Ele visitou Nainital, Almora, Srinagar, Dehradun, Rishikesh, Haridwar e os Himalayas. Afirma-se que nesta viagem ele teve um visão marcante do Macrocosmo e o Microcosmo, que parecem estar refletidas nas suas palestras sobre Jnana Yoga que deu no Ocidente, intituladas "The Cosmos". Ao longo destas viagens, ele encontrou alguns de seus irmãos discípulos — Swami Brahmananda, Saradananda, Turiyananda, Akhandananda e Advaitananda. Eles ficaram em Meerut por alguns dias, passando seu tempo em meditação, oração e estudo das escrituras. No fim de Janeiro de 1891, Vivekananda deixou seus irmãos monges e jornou para Delhi sozinho.[55][56]
Rajputana
Em Delhi, depois de visitar locais históricos, ele viajou para Alwar, na histórica região de Rajputana. Mais tarde ele rumou para Jaipur, onde estudou uma das primeiras gramáticas conhecidas do sânscrito, o Ashtadhyaya de Panini, com um estudioso. Em seguida foi para Ajmer, onde visitou o palácio de Akbar e o famoso Dargah e saiu em direção Monte Abu. Lá ele conheceu o Maharaja Alit Singh de Khetri, que se tornou um entusiástico devoto seu e patrocinador. Ele foi convidado para Khetri, onde proferiu discursos para o Raja. Em Khetri, ele também se familiarizou com o Pandit Narayandas, e estudou o Mahabhashya, que é o comentário de algumas regras selecionadas da Gramática Sânscrita de Panini. Depois de dois meses e meio em Khetri, perto do fim de outubro de 1891, ele foi em direção ao Rajastão Maharastra.[50][57]
Índia Ocidental
Continuando suas viagens, ele visitou Ahmedabad, Wadhwan, Limbdi. Em Ahmadabed ele completou seus estudos das tradições muçulmanas e jainistas. Em Limbdi ele encontrou Thakore Sahed Jaswant Singh que havia, ele mesmo, estado na Inglaterra e América. De Thakore Sageb, o Swami teve primeiramente a ideia de ir para o Ocidente para pregar a Vedanta. Ele mais tarde visitou Jaganath, Girnar, Kutchm Portbander, Dwaraka, Palitana e Baroda. Em Portbander ele ficou três quartos de um ano para aperfeiçoar seus estudos em filosofia e sânscrito com pandits versados; ele trabalhou com um pandit da corte que traduziu os Vedas.[50] Ele mais tarde viajou para Mahabaleshwar e então para Pune. De lá ele visitou Khandwa e Indore, próximo a junho de 1882. Em Kathiawar ele ouviu a respeito do Parlamento das Religiões do Mundo e foi instado por seus seguidores de lá a participar deste.
Ele deixou Khandwa para Bombaim e chegou lá em julho de 1892. Em um trem para Pune ele conheceu Bal Gangadhar Tilak. Depois de ficar com Tilak por poucos dias em Poona, o Swami viajou para Belgão em outubro de 1892.[58] Segundo Romain Rolland (2008, p. 25): "Tilak, o famoso líder político Hindu o tomou primeiramente por um monge errante de pequena importância e começou a ser irônico; então, pego por suas respostas, que revelavam uma mente poderosa e conhecimento, ele o recebeu em sua casa por dez dias sem nunca conhecer o seu verdadeiro nome. Foi apenas depois, quando os jornais trouxeram da América os ecos do triunfo de Vivekananda e a descrição do conquistador, que ele reconheceu o hóspede anônimo que havia habitado sob seu teto". Em Belgão ele foi hóspede do professor G.F. Bhate e o oficial de floresta da subdivisão, Haripada Mitra. De lá, ele visitou Panjim e Margao em Goa. Ele passou três dias no seminário no Rachol Seminary, o mais velho colégio-convento de teologia em Goa, onde uma rara literatura religiosa em manuscritos e trabalhos imprimidos em latim estão preservados. Afirma-se que lá ele estudou importantes trabalhos da teologia cristã.[59] De Margao o Swami foi de trem para Dharwar, e de lá foi diretamente para Bangalore, em Mysore State.[60]
Sul da Índia
Em Bangalore, o Swami conheceu Sir K. Seshadri Iyer, o Dewan de Estado de Mysore e, depois, ficou no palácio como hóspede do Maharaja do Chamaraja Wodeyar. Tendo conhecimento do profundo saber do Swami, Sir Seshadri teria dito: "uma personalidade magnética e uma força divina que estava destinada a deixar a sua marca na história deste país". O Maharaja forneceu ao Swami uma carta de introdução para o Dewan de Cochi e deu a ele um bilhete de trem.[61]
De Bangalore ele visitou Trichur, Kodungallor, Ernakulam. Neste último local ele conheceu Chattampi Swamikal no início de dezembro de 1892,[62] que, junto a seu contemporâneo de Sri Narayana Guru, teve importante papel na reforma da sociedade indiana, fortemente ritualista e impregnada de uma opressão por castas. De Ernakulam, ele viajou para Trivandrum, Nagercoil e chegou a Karayakumari a pé, na véspera do Natal de 1892.[63] Em Kanyakumari, diz-se que o Swami meditou no "último pedaço de rocha indiana" por três dias, local em que mais tarde ficou conhecido como Vivekananda Rock Memorial. Em Kanyakumari, Vivekananda teve a "visão de uma única Índia",[64] comumente conhecida como “A resolução de Kanyakumari de 1892”.[65]
De Kanyakumari ele visitou Madurai, onde conheceu o Raja de Romnad, Bhaskara Setupati, para quem ele tinha uma carta de introdução. O Raja se tornou discípulo do Swami e urgiu a este que fosse ao Parlamento das Religiões de Chicago. De Madurai ele visitou Rameshwaram, Pondicherry, seguiu para Madras, onde conheceu alguns de seus mais devotados discípulos, como Alasinga Perumal, G. G. Narasimhachari, que teve importante papel na coleta de fundos para a viagem do Swami à América e, mais tarde, no estabelecimento da Missão Ramakrishna em Madras. De Madras ele viajou para Hyderabad. Com a ajuda dos fundos coletados por seus discípulos de Madras e Rajas de Mysore, Ramnad, Khetri, Dewans e outros seguidores, Vivekananda embarcou para Chicago, saindo de Bombaim em 31 de maio de 1893 e assumindo o nome Vivekananda — nome sugerido pelo Maharaja de Khetri.[66][67]
Visita ao Japão
No seu caminho para Chicago, Vivekananda visitou o Japão em 1893. Ele primeiro chegou à cidade portuária de Nagasaki e, então, subiu a bordo de um navio com direção a Kobe. De lá ele foi por terra para Yokohama, visitando no caminho as três grandes cidades de Osaka, Quioto e Tóquio. Ele chamou os japoneses de "um dos povos mais limpos da Terra". Ficou impressionado não apenas com a limpeza de suas ruas e moradias como também por seus movimentos, atitudes e gestos, todos os quais ele considerou pitorescos.[68] Aquele foi um período de rápido crescimento militar no Japão — um prelúdio para a guerra Sino-Japonesa. Isso não escapou à atenção de Vivekananda, que escreveu — "Os japoneses parecem agora ter acordado para as necessidades dos tempos atuais. Eles têm agora um exército altamente organizado, equipado com armas que um de seus próprios oficiais inventou e que, é dito, não ficam atrás de nenhuma outra. Inclusive estão continuamente aumentando sua marinha". Sobre o progresso industrial ele observou: "As fábricas de correspondência são simplesmente um espetáculo e eles estão dispostos a fazer tudo aquilo que eles precisam no seu próprio país".[68] Contrastando com a situação suportada na Índia, ele instou seus compatriotas — o "fruto de séculos de superstição e tirania" — a sair de suas tocas estreitas e olhar amplamente — "Eu só quero que muitos de nossos jovens façam uma visita ao Japão e à China todo os anos. Especialmente para os japoneses, a Índia é ainda a terra dos sonhos de tudo aquilo que é alto e bom. E vocês, o que são vocês? … dizendo tolices toda a vida, vãos faladores, o que são vocês? Venham, vejam estas pessoas, e então partam e escondam suas faces em vergonha. Uma raça de velhos sem força, vocês perdem suas castas se vocês saem! Sentados por centenas de anos com uma sempre crescente carga de superstições em suas cabeças, por centenas de anos gastando toda a sua energia discutindo a tocabilidade ou intocabilidade desta ou daquela comida, com toda a humanidade esmagada por vocês pela contínua tirania das eras — o que são vocês? O que vocês estão fazendo agora? Passeando a beira-mar com livros em suas mãos — repetindo pedaços esparsos do trabalho intelectual europeu e a alma curvada para ganhar as 30 rúpias de um secretário ou, no máximo, se tornando um advogado — o topo das ambições de um jovem indiano — e todo estudante com uma ninhada completa de crianças esfomeadas tagarelando aos seus calcanhares e pedindo por pão! Não tem água suficiente no mar para afogar vocês, livros empolados, diplomas universitários e todo o resto?"[68]
Primeira visita ao Oeste
A sua jornada para América levou ele para China, Canadá e chegou a Chicago em julho de 1893.[69] Mas para o seu desapontamento ele aprendeu que ninguém sem credenciais de uma organização de renome poderia ser aceito como um delegado. Ele entrou em contato com o Professor John Henry Wright da Universidade Harvard.[70] Depois de convidá-lo a falar em Harvard e saber dele que não tinha credenciais para falar no parlamento, Wright é citado por ter dito, "Pedir a você credenciais é como pedir ao sol para expressar seu direito de brilhar nos céus". Wright então enviou uma carta para o diretor a cargo dos delegados, escrevendo, "Aqui está um homem que é mais versado do que todos os nossos versados professores colocados juntos". Sobre o professor, Vivekananda ele mesmo escreveu "Ele incitou a mim a necessidade de ir ao Parlamento das Religiões, o qual, ele pensou, poderia dar uma introdução à nação".[71]
Parlamento das Religiões do Mundo

O Parlamento das Religiões teve sua abertura no dia 11 de setembro de 1893 no Art Institute of Chicago (Instituto de Arte de Chicago). Nesse dia Vivekananda fez a sua primeira e curta fala. Ele representou a Índia e o Hinduísmo.[72] Apesar de inicialmente nervoso, ele se curvou a Saraswati, a deusa da Sabedoria, e começou sua fala com "Irmãs e irmãos da America!".[70][73] Com estas palavras ele foi ovacionado de pé por uma plateia de sete mil pessoas, por dois minutos. Quando o silêncio foi restaurado ele iniciou o seus discursos. Ele saudou a mais jovem das nações em nome da "mais antiga ordem de monges do mundo, a ordem Védica dos sannyasins, uma religião que ensinou o mundo ambos, tolerância e aceitação universal". E ele citou duas passagens ilustrativas a este respeito presentes no Bhagad Gita — "Assim como diferentes correntes tendo suas fontes em diferentes locais, todas misturam suas águas no mar, do mesmo modo, Ó Senhor, os diferentes caminhos que o homem toma, devido a diferentes tendências, diversos, mesmo que pareçam tortos ou diretos, todos levam a Ti". E "Quem quer que venha a Mim, por qualquer forma que seja, Eu chego a ele; todos os homens estão se esforçando através de caminhos que no final levam a Mim". Apesar de ter sido um discurso curto, ressoou no espírito do Parlamento e em seu senso de universalidade.[74]
Dr. Barrows, o presidente do Parlamento disse, "Índia, a Mãe das religiões foi representada por Swami Vivekananda, o monge laranja que exerceu a mais admirável influência sobre seus ouvintes".[73] Ele atraiu uma vasta atenção na imprensa, o que lhe rendeu o título de "O monge ciclônico da Índia". O New York Critique escreveu, "Ele é um orador por direito divino, e sua forte, inteligente face, em sua pitoresca moldura amarela e laranja quase não foi menos interessante que suas sinceras e firmes palavras, e a rica, rítmica expressão vocal que deu a elas". O New York Herald escreveu, "Vivekananda é indubitavelmente a maior figura no Parlamento das Religiões. Depois de ouvi-lo nós sentimos quão tolo é mandar missionários para esta sábia nação".[75] Os jornais norte-americanos reputaram Swami Vivekananda como "A maior figura do Parlamento das Religiões" e "O mais popular e influente homem no parlamento".[76] Ele falou diversas outras vezes no Parlamento em tópicos relacionados ao Hinduísmo e ao Budismo. O parlamento teve seu fim em 27 de setembro de 1893. Todos os seus discursos no Parlamento tinham um tema em comum — a universalidade- e enfatizavam a tolerância religiosa.[77]
Viagens de palestras nos EUA e Inglaterra
“Eu não vim”, disse Swamiji em certa ocasião nos EUA, “para converter vocês a uma nova crença. Eu quero que vocês mantenham suas próprias crenças; eu quero fazer com que o Metodista se torne um melhor Metodista; o Presbiteriano, um melhor Presbiteriano; o Unitariano um melhor Unitariano. Eu quero ensinar vocês a viver a verdade, a revelar a luz dentro de sua própria alma.”[78]
Depois do Parlamento das Religiões Vivekananda gastou aproximadamente dois anos dando palestras em várias partes nas regiões Leste e central dos Estados Unidos, aparecendo, sobretudo, em Chicago, Detroit, Boston e Nova York. Pela primavera de 1895, ele estava fatigado e com uma saúde debilitada devido ao seu contínuo empenho.[79] Depois de suspender seu ciclo de palestras ao redor do país, o Swami começou a dar aulas abertas e privadas sobre Vedanta e Yoga. Em junho de 1895, por dois meses ele conduziu aulas privadas para uma dúzia de seus discípulos em Thousand Island Park. Vivekananda considerou isso como a parte mais feliz de sua visita à América. Mais tarde ele fundou a "Vedanta Society of New York" (Sociedade Vedanta de Nova York).[79] Durante a sua primeira visita para a América, ele viajou para Inglaterra duas vezes — em 1895 e em 1896.
Suas palestras foram exitosas lá.[80] Foi lá que conheceu a senhora Margaret Noble, uma dama irlandesa que, mais tarde se tornou a Sister Nivedita.[79] Durante a sua segunda visita, em maio de 1896, enquanto morava em uma casa em Pimlico, o Swami conheceu Max Müller, um renomado indólogo, na Universidade de Oxford, que escreveu a primeira biografia de Ramakrishna no Ocidente.[74] Da Inglaterra, ele também visitou outros países europeus. Na Alemanha ele conheceu Paul Deussen, um outro indólogo famoso.[81] Ele também recebeu duas ofertas acadêmicas, a cadeira de filosofia oriental na Universidade de Harvard e uma posição similar na Universidade de Columbia. Ele declinou a ambas, dizendo que, como um monge errante, ele não poderia ficar estabelecido em um trabalho do tipo.[79] Ele atraiu diversos seguidores sinceros. Entre seus seguidores estavam, Josephine MacLeod, Senhorita Müller, Senhorita Noble, E.t. Sturdy, Capitão e Senhora Sevier — que tiveram um importante papel na fundação do Advaita Ashrama, e J.J. Goodwin — que se tornou seu taquígrafo e registrou seus ensinamentos e palestras.[79][81] A família Hale se tornou um de seus mais calorosos anfitriões na América.[82]
Seus discípulos — Madame Louise, uma mulher francesa, tornou-se Swami Abhayananda, e o Senhor Leon Landsberg, se tornou Swami Kripananda. Ele iniciou diversos outros seguidores em Brahmacharya.[83] As ideias de Swami Vivekananda foram admiradas por diversos escolares e famosos pensadores — William James, Josiah Royce, C. C. Everett, reitor da Universidade da Harvard School of Divinity (Faculdade da Divindade, de Harvard), Robert G. Ingersoll, Nikola Tesla, Lorde Kelvin e o professor Hermann Ludwig Ferdinand Von Helmholtz.[11] Outras personalidades que foram atraídas por seus pensamentos foram Harriet Monroe e Ella Wheeler Wilcox — dois famosos poetas Norte-Americanos, o professor William James da Universidade de Harvard; Dr. Lewis G. Janes, presidente da “Brooklyn Ethical Association”; Sara C. Bull, Esposa de Ole Bull, o violonista norueguês; Sarah Bernhardt, a atriz francesa e Madame Emma Calvé, a cantora francesa de ópera.[84] Do Ocidente, ele também colocou o seu trabalho na Índia em movimento. Vivekananda escreveu uma corrente de cartas para Índia, dando conselhos e enviando dinheiro para seus seguidores e irmãos monges. Suas cartas vindas do Ocidente naqueles dias estabeleceram a sua campanha para o serviço social.[85]
Ele constantemente tentou inspirar seus discípulos íntimos na Índia a fazer algo grande. Suas cartas a eles contêm algumas de suas mais fortes palavras.[86] Em uma destas cartas, ele escreveu ao Swami Akhandananda, seu irmão monge: "Vá de porta a porta entre os pobres e classes mais baixas da cidade de Khetri e ensine a eles religião. Também permita que eles tenham lições orais em geografia e outros assuntos do tipo. Nada bom virá em ficar sentado à toa e tendo pratos principescos, e dizendo ‘Ramakrishna, Óh Senhor’ exceto se você puder fazer algo bom aos pobres".[87][88] Em 1895 o periódico chamado Brahmavadin foi iniciado em Madras, com o dinheiro suprido por Vivekananda para o propósito de ensinar a Vedanta.[89] Logo após, a tradução de Vivekananda dos primeiros seis capítulos de "A Imitação de Cristo", que havia sido completada em 1889, foi publicada no periódico.[90] Vivekananda partiu da América para a Índia no dia 16 de dezembro de 1896, saindo da Inglaterra com seus discípulos, Capitão e Senhora Sevier, e J.J. Goodwin. No caminho eles visitaram a França, Itália, vendo o quadro "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci, e partiram para a Índia do Porto de Nápoles em 30 de dezembro de 1896.[91] Mais tarde, ele foi seguido à Índia pela Senhorita Müller e por Sister Nivedita. Sister Nivedita devotou o resto de sua vida à educação das mulheres indianas e pela independência da Índia.[79][92]
De volta à Índia

De Colombo a Almora
Vivekananda chegou a Colombo em 15 de janeiro de 1897 e recebeu uma estática recepção. Lá ele fez o seu primeiro discursos no Oriente, India, the Holy Land (Índia, a terra Sagrada). Deste momento em diante, sua jornada para Calcutá foi de um progresso triunfante. Ele viajou de Colombo a Pamban, Rameshawaram, Ramnad, Madurai, Kumbakonam e Madras proferindo palestras. O povo e os Rajas deram a ele uma entusiástica recepção. Na procissão em Pamban, o Raja de Ramnad puxou pessoalmente a carruagem de Swamiji. No caminho para Madras, em diversos locais onde o trem não parava, as pessoas se agachavam nos trilhos e só permitiam que o trem continuasse depois de ouvir o Swami.[93]
De Madras, ele continuou sua jornada para Calcutá e deu continuidade às suas palestras até chegar em Almora. Enquanto no Ocidente falou da grande herança espiritual da Índia, no seu retorno à sua terra mãe, o refrão de suas Palestras de Colombo a Almora foi a elevação das massas, erradicação do vírus das castas, promoção do estudo da ciência, industrialização do país, remoção da pobreza, o fim da regulamentação colonial. Essas conferências foram publicadas como ‘Lectures from Colombo to Almora’ (Palestras de Colombo a Almora) e são consideradas de fervor nacionalista e ideologia espiritual.[94] Suas falas tiveram uma tremenda influência nos líderes indianos, incluindo Mahatma Gandhi, Bipin Chandra Pal e Balgangadhar Tilak.[95][96]
Fundação da Ordem e Missão Ramakrishna
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No dia 1 de maio de 1897, em Calcutá, Vivekananda fundou a "Ordem Ramakrishna" — o órgão para propagar religião — e a Missão Ramakrishna, o órgão para o serviço social.[97] Este foi o começo de um organizado movimento sócio-religioso, que tem contribuído, sobretudo na Índia, para ajudar as massas por meio de educação, cultura, trabalhos médicos e assistenciais. Os ideais de Missão Ramakrishna são baseados em Karma Yoga.[98][99] Dois monastérios foram fundados por ele, um em Belur, próximo a Calcutá, que se tornou a sede da Ordem e Missão Ramakrishna. Outro em Mayavati, nos Himalayas, próximo a Almora, conhecido como Advaita Ashrama; o terceiro monastério foi estabelecido em Madras. Dois jornais foram iniciados, Prabuddha Bharata, em inglês, e Udbhodan, em bengali.[100] No mesmo ano, o trabalho de assistência contra a escassez foi iniciado pelo Swami Akhandananda no distrito de Murshidabad.[74][97]
Vivekananda havia inspirado Sir Jamshetji Tata a iniciar uma instituição de pesquisa e educação quando eles viajaram juntos de Yokohama a Chicago, na primeira visita do Swami ao Ocidente, em 1893. Nesta época, o Swami recebeu uma carta de Tata, pedindo a ele para dirigir o Research Institute of Science (Instituto de Pesquisas de Ciência) que Tata havia fundado. Mas Vivekananda não aceitou a oferta, dizendo que isto conflitava com seus interesses espirituais.[101][102] Ele, mais tarde visitou o Punjab ocidental com a missão de estabelecer a harmonia entre o Arya Samaj, que sustentava a ideia de um Hinduismo reinterpretado e os Sanatanaists, que defendiam um Hinduísmo ortodoxo. Em Rawalpindi, ele sugeriu métodos para erradicar o antagonismo entre os membros do Arya Samaj e os muçulmanos.[103] Sua visita a Lahore é memorável por conta de suas famosas palestras e sua inspiradora associação com Tirtha Ram Goswami, então um brilhante professor de matemática, que mais tarde abraçou a vida monástica como Swami Rama Tirtha e pregou Vedanta na Índia e América.[97] Ele também visitou outros locais, incluindo Delhi e Ketri e retornou a Calcutá em janeiro de 1896. Ele gastou depois alguns meses consolidando o trabalho da Ordem e treinando discípulos. Durante esse período ele compôs a famosa canção do Arati, Khandana Bhava Bandhana, durante o evento da consagração do templo de Ramakrishna na casa de devotos.[104]
Segunda Visita ao Oeste
editarEle novamente embarcou para o Ocidente em junho de 1899, em um momento em que sua saúde estava piorando.[105] Ele foi acompanhado por Sister Nivedita e por Swami Turiyananda. Ele gastou um tempo curto na Inglaterra e, então, foi para a América. Ao longo desta visita, ele fundou as Vedanta Societies (Sociedades de Vedanta) em São Francisco e em Nova York. Ele também fundou o “Shanti Ashrama” na Califórnia, com o generoso apoio de uma propriedade de 65 hectares (0.65 km²) doada por um devoto norte-americano.[106] Mais tarde ele participou do Congresso das Religiões, em Paris, em 1900.[107] Os discursos dados em Paris são memoráveis pelo conhecimento que Vivekananda demonstrou relacionados à adoração do Linga e a autenticidade do Bhagavad Gita. De París ele fez curtas visitas a Brittany, Viena, Istambul, Atenas e Egito. Na maior parte deste período, ele foi hóspede de Jules Bois, o famoso pensador.[106] Ele deixou Paris no dia 24 de outubro de 1900 e chegou a Belur Math em 9 de dezembro do mesmo ano.[106]
Últimos Anos
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Vivekananda passou alguns de seus dias no Advaita Ashrama, em Mayavati e, mais tarde, em Belur Math. Deste momento em diante ele ficou em Belur Math, guiando o trabalho da Ordem e Missão Ramakrishna e o trabalho na Inglaterra e America. Milhares de visitantes vieram a ele nesses dias, incluindo o Maharaja de Gwalior e, em dezembro de 1901, os homens fortes do Congresso Nacional da Índia, incluindo Lokamanya Tilak. Nesse mesmo mês ele foi convidado a participar do Congresso das Religiões no Japão. No entanto, sua saúde debilitada tornou isso impossível. Ele fez peregrinações a Bodhgaya e Varanasi em uma data próxima aos últimos dias de seu corpo.[108] Suas viagens, agitados compromissos que incluíam conferências, discussões privadas e correspondências prejudicaram sua saúde física. Ela estava com asma, diabetes e outras indisposições físicas.[109]
Poucos dias antes da morte de seu corpo, ele foi visto estudando o almanaque. Três dias antes de sua morte ele apontou o local para sua cremação — um local em que, posteriormente, foi construído um templo em sua memória. Ele comentou a diversas pessoas que não chegaria aos quarenta anos.[109] No dia de sua morte, ele ensinou Shukla-Yajur-Veda para alguns de seus pupilos, de manhã, em Belur Math. Ele teve uma caminhada com Swami Premananda, um irmão-discípulo e deu a ele instruções para o futuro da Ordem Ramakrishna. Vivekananda morreu às 21h10 do dia 4 de julho de 1902, enquanto estava meditando. De acordo com seus discípulos, isso foi o seu Mahasamadhi.[110] Mais tarde seus discípulos lembraram que havia um pouco de sangue nas suas narinas, próximo à boca e nos seus olhos.[111] Os médicos apontaram que isto teria sido causado pela ruptura de um vaso sanguíneo no cérebro, mas não puderam encontrar a causa real da morte. De acordo com discípulos, Brahmarandhra — a abertura na coroa da cabeça — deve ter sido rompida quando ele atingiu o Mahasamadhi. Vivekananda havia deste modo cumprido sua própria profecia de não viver até os 40 anos de idade.
Ensinamentos e Filosofia
editarSwami Vivekananda acreditava que a essência do Hinduísmo seria melhor expressa na filosofia da Vedanta, baseada na interpretação de Adi Shankara. Ele resumiu os ensinamentos da Vedanta da seguinte maneira.[112]
- Toda alma é potencialmente divina.[112]
- A meta é manifestar esta Divindade interior por meio do controle da natureza, externa e interna.[112]
- Faça isso tanto por meio do trabalho, quanto adoração, controle psíquico, ou filosofia (Karma Yoga, Bhakti Yoga, Raja Yoga e Jnana Yoga, respectivamente) — por um, ou mais, ou por todos estes meios — e seja livre.[112]
- Isso é a totalidade da religião. Doutrinas, ou dogmas, ou rituais, ou livros, ou templos, ou formas, não são se não detalhes secundários.[112]
- Enquanto um único cachorro em meu país está sem comida, toda a minha religião é alimentá-lo e servi-lo; qualquer coisa excluindo isso é irreligioso.
- Levante, desperte e não pare até atingir a meta.
- Educação é a manifestação da perfeição já existente no homem.
- Servir ao homem é servir a Deus.
Para Vivekananda, um importante ensinamento que Ramakrishna havia lhe dado é "Jiva é Shiva" (cada indivíduo é a própria divindade).[113] Esse se tornou seu Mantra, e ele cunhou o conceito de daridra narayana seva — o serviço a Deus nos, e por meio dos, seres humanos (pobres). "Se verdadeiramente existe a unidade de Brahman subjacente a todos os fenômenos, então, com que base nós nos consideramos como melhores ou piores, ou mesmo como em melhor situação, do que outros?" — Essa foi a questão que ele propôs a si mesmo. Por fim concluiu que estas distinções se desvanecem nulas dentro da luz da unidade que o devoto experimenta em Moksha, a libertação. O que surge, então, é a compaixão para com aqueles "indivíduos" que permanecem inconscientes desta unidade e uma determinação de ajudá-los.

Swami Vivekananda pertencia ao ramo da Vedanta que sustentava que ninguém pode ser verdadeiramente livre até que todos nós sejamos. Mesmo o desejo de salvação pessoal deve ser deixado e apenas um incansável trabalho para a libertação de outros é a verdadeira marca de uma pessoa iluminada. Ele fundou a Ordem e Missão Ramakrishna no princípio de "Amano MoksharthamJagat-hitaya cha" (आत्मनॊ मोक्षार्थम् जगद्धिताय च) (para a própria salvação e para o bem-estar do mundo).[114]
Vivekananda alertou seus seguidores para que tivessem uma vida santa, não egoísta e para que tivessem shraddha (fé). Ele encorajou a prática do Brahmacharya (celibato). Em uma das conversas com seu amigo de infância, Priya Nath Sinha, ele atribui sua força física e mental, e sua eloquência à prática do Brahmacharya.[115] Vivekananda não defendia as emergentes áreas da parapsicologia e da astrologia (um exemplo pode ser encontrado na sua palestra “Man, the Maker of his Destiny”, “Complelte-Works, Volume 8, Notes Fo Class Talks and Lectures”), dizendo que, pelo contrário, esta forma de curiosidade não ajuda no progresso espiritual, mas, na verdade esconde isso.
Influência
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Diversos líderes da Índia do século XX e filósofos reconheceram a influência de Vivekananda. O primeiro governador-geral da Índia independente, Chakravarti Rajagopalachari, certa vez observou que "Vivekananda salvou o Hinduísmo, salvou a Índia".[116] De acordo com o grande líder revolucionário, Subhas Chandra Bose, Vivekananda "é o autor da nova Índia" e, para Gandhi, a influência de Vivekananda tornou seu "amor por este país mil vezes maior". Anna Hazare, o líder Indiano que está ficando conhecido pelo mundo, tem Vivekananda como a principal influência em sua vida. Completou um jejum de 12 dias contra a corrupção que afirma-se estar ocorrendo na Índia. Em 1965, quando era membro do exército e participava da guerra entre Índia e Paquistão, seu veículo foi atingido por forte ataque aéreo e teve Anna como o único sobrevivente. Diversas questões sobre a morte e sobre a vida espiritual surgiram em sua mente. Em um momento em que esta pensando em se suicidar, teve acesso a um pequeno livro de Vivekananda. Nesse, lhe marcou muito a ideia de que servir ao pobre é servir a Deus. Ele credita o livro por ter-lhe dado esta mentalidade e última realização e considera o grande Swami como a luz guia de sua vida.
O Dia Nacional da Juventude na Índia é realizado no dia do aniversário do Swami, 12 de janeiro, para comemorar este grande líder e trazer o seus ensinamentos para a juventude. Esse foi um gesto bastante apropriado levando em conta os seus escritos que trataram da juventude indiana e como esta deveria se esforçar para seus valores antigos enquanto participavam totalmente do mundo moderno, segundo o site do governo indiano.
Desde de o ano de 1984, a Índia celebra o dia 12 de janeiro como o "Dia Nacional da Juventude" (National Youth Day) porque, neste dia, no ano de 1863, uma fábrica de homens nasceu. Ele era conhecido como o grande filósofo, uma inspiração para a juventude, a corporificarão da cultura e inteligência indiana "Sri Swami Vivekananda, o grande guru espiritual" da Índia. Ele se ergue como um modelo completo por gerações, em vários temas. O caminho tomado por santos filósofos, para lidar uma vida verdadeira e pura é raramente seguido pela sociedade materialista de hoje. Swami Vivekananda inspirou muitos jovens, incluindo grandes líderes, como Nethaji Subash Chandra Bose por meio de seus trabalhos. Seus trabalhos e seu conhecimento são um ideal e inspiração à juventude para atingir coisas maiores na vida".
Vivekananda é largamente considerado como alguém que inspirou o movimento de luta pela independência da Índia. Seus escritos inspiraram toda uma geração de pessoas que lutaram por esta libertação como o próprio Subhash Chandra Bose, Aurobindo Ghose e Bagha Jatin. Vivekananda foi o irmão de Bhupendranath Dutta, revolucionário que lutou pela libertação. Subhash Chandra Bose, que foi uma das mais proeminentes figuras no movimento de independência da Índia disse também: "Eu não posso escrever sobre Vivekananda sem entrar em êxtase. Poucos, de fato, puderam compreendê-lo ou sondá-lo, mesmo entre os que tiveram o privilégio de se tornar íntimos com ele. Sua personalidade era rica, profunda e complexa… Indiferente em seu sacrifício, incessante em sua atividade, ilimitado em seu amor, profundo e versátil em sua sabedoria, exuberante em suas emoções, inclemente em seus ataques, mas, ainda assim, simples como uma criança, ele era uma rara personalidade neste mundo nosso".
Aurobindo Ghosh, que considerou Vivekananda como seu mentor espiritual, afirmou: "Vivekananda foi uma alma de poder, se algum dia existiu uma, um leão mesmo, entre os homens, mas o trabalho definitivo que ele deixou para trás é incomensurável em comparação com nossas impressões de seu poder criativo e energia. Nós percebemos suas influência ainda trabalhando de modo gigantesco, nós não sabemos bem como, nós não sabemos bem onde, em algo que ainda não está formado, algo leonino, grandioso, intuitivo, capaz de causar uma violenta elevação, que entrou na alma da Índia e nós dizemos, ‘Olhe, Vivekananda ainda vive na alma de sua Mãe e alma de suas crianças.’"
O francês Romain Rolland, laureado prêmio Nobel de literatura, escreveu "Suas palavras são grande música; as frases guardam o estilo de Beethoven; seus excitantes ritmos são como os coros da marcha de Händel. Eu não posso tocar estes seus dizeres, dispersos como estão nas páginas de livros, a uma distância de trinta anos, sem receber uma forte vibração por todo o meu corpo, como um choque elétrico. E que choques, que arrebatamentos devem ter sido produzidos quando, em palavras flamejantes, eles emergiram da boca de um herói."
Vivekananda inspirou Jamshedji Tata para estabelecer o Instituto Indiano de Ciências, uma das instituições mais finas da Índia. No exterior, ele teve algumas interações com Max Müller. O cientista Nikola Tesla foi uma daquelas pessoas influenciadas pelos ensinamentos da filosofia Védica de Swami Vivekananda.
Uma das suas discípulas mais próximas foi a alemã Christina Greenstidel (1866-1930), conhecida na India como Sister Christine,[117] que continuou fielmente o trabalho de Sister Nivedita.
Acima de tudo, Swami Vivekananda ajudou a restaurar um senso de orgulho entre os hindús, apresentando o milenar conhecimento da Índia, em sua forma mais pura para uma platéia ocidental, livre da propaganda espalhada pelos administradores coloniais britânicos, segundo a qual o Hinduísmo seria uma fé misógina, idólatra e opressora de castas. De fato, sua vinda ao Ocidente iria assentar o caminho para os subsequentes professores de religião da Índia para que deixassem suas próprias marcas no mundo, assim como introduzir solenemente a entrada de hindús com suas tradições religiosas no mundo ocidental.
As ideias do Swami tiveram grande influência na juventude indiana. Em muitos institutos, estudantes se uniram formando organizações que objetivavam promover discussões de ideias espirituais e a prática de tão altos princípios. Muitas destas organizações adotaram seu nome. Um destes grupos ainda existe em IIT Madras — Indian Institute of Technology Madras (Instituto Indiano de Tecnologia, de Madras) — e é popularmente conhecido como Vivekananda Study Circle (Círculo de estudos Vivekananda). Outro existe em IIT Kanpur com o nome Vivekananda Samiti. Adicionalmente, as ideias de Swami Vivekananda e seus ensinamentos fluíram em direção ao globo, sendo praticadas em instituições por todo o mundo.
Mahatma Gandhi disse: "Os escritos de Swami Vivekananda não precisam ser introduzidos por ninguém. Eles fazem seu próprio apelo irresistível". Em Belur Math, Gandhi foi ouvido dizer que toda a sua vida foi um esforço para trazer para a ação as ideias de Vivekananda. Muitos anos depois da morte de Vivekananda, Rabindranath Tagore — poeta indiano e o primeiro fora da Europa a receber o Prêmio Nobel de Literatura — disse a Romain Rolland: "se você quer conhecer a Índia, estude Vivekananda. Nele tudo é positivo, não há nada de negativo". Em 11 de novembro de 1955, uma seção da Michigan Avenue (Avenida de Michigan), uma da mais proeminentes ruas em Chicago, foi formalmente renomeada Swami Vivekanada Way (Via Swami Vivekananda).
Vivekananda e Rabindranath Tagore
editarApesar de não haver nenhuma referência a Vivekananda em nenhum artigo de Rabindranath Tagore, o poeta disse a Romain Rolland: "Se você quiser conhecer a Índia, leia Vivekananda, nele, tudo é positivo e nada é negativo". Percebe-se assim a estima que Tagore tinha por Vedanta Kesari. A respeito do guru de Vivekananda, Sri Ramakrishna, Tagore escreveu um poema: "Ao Paramahamsa Ramakrishna Deva". "Diversos cursos de adoração, de variadas fontes de preenchimento, foram unidos em sua meditação. A múltipla revelação da alegria do infinito deu forma a um santuário de unidade em sua vida, para onde, de longe e de perto, chegam saudações, entre as quais eu junto a minha própria".[118]
Tagore foi o principal convidado na celebração do centenário de nascimento de Ramakrishna pela Missão Ramakrishna. Ao longo do Parlamento das Religiões de 1937, que foi realizado na Missão Ramakrishna em Calcutá, Tagore reconheceu Ramakrishna, cujo centenário de nascimento estava sendo celebrado, como um grande santo porque "a vastidão de seu espírito não podia compreender o aparente antagonismo entre diferentes métodos de sadhana, e por causa da simplicidade de sua alma, envergonha por todo o tempo a pompa e pedantismo de pontífices e pundits".[119]
Vivekananda e Ciência
editarNo seu livro Raja Yoga, Vivekananda explora visões tradicionais a respeito do sobrenatural e a crença de que a prática de Raja Yoga pode conferir poderes psíquicos como `ler pensamento de outros`, ’controlar todas as forças da natureza`, se tornar `praticamente todo conhecedor`, `viver sem respirar`, `controle do corpo de outros` e levitação. Ele também explica conceitos tradicionais do oriente, como kundalini e centros de energia espiritual (chakras).[120] No entanto, Vivekananda toma um ponto de vista cético e, no mesmo livro aponta: "Não é um sinal de uma mente científica e imparcial jogar fora qualquer coisa sem uma própria investigação. Cientistas superficiais, inaptos a explicar vários fenômenos mentais extraordinários, lutam por ignorar a sua própria existência".[121] Ele, mais adiante na introdução do livro, diz que aquele que assim intenta, deveria tomar as práticas e verificar estas coisas por si mesmo, e que não deveria haver crença cega. "O pouco eu sei eu vou dizer a vocês. Até onde a minha razão chega eu vou fazê-lo, mas para aquilo que eu não conheço, eu vou simplesmente lhes dizer o que os livros dizem. É errado acreditar cegamente. Você deve exercitar sua própria razão e julgamento; você deve praticar e ver se estas coisas acontecem ou não. Da mesmo forma que você pegaria qualquer outra ciência, exatamente do mesmo modo você deve pegar esta ciência para estudar".[122]
Vivekananda (1885) rejeitou a teoria do éter antes de Einstein (1905), defendendo que esta não era capaz de explicar o espaço. Em uma de suas falas no Parlamento Mundial das Religiões (1893), Vivekananda também aludiu à etapa final da física: "Ciência não é nada a não ser a descoberta da unidade. Tão logo quanto a ciência chegue à perfeita unidade, esta iria interromper com progressos futuros, porque chegaria ao seu objetivo. Assim, a química não poderia progredir mais quando descobrisse um elemento a partir do qual todos os outros poderiam ser feitos. A física pararia quando se tornasse apta a preencher seus serviços em descobrir uma energia da qual as outras não são se não manifestações (…) Toda a ciência esta compelida a chegar a esta conclusão a longo prazo. Manifestação, e não criação, é a palavra da ciência hoje, e o hindú fica feliz porque o que ele tem apreciado em seu âmago por eras está caminhando para ser ensinado em uma linguagem mais convincente, e com a luz adicional das últimas conclusões da ciência".[123]
Trivialidades
editarSwami Vivekananda foi o primeiro indiano a ser convidado para aceitar a cadeira de Filosofia Oriental na Harvard — A India celebra o dia Nacional da Juventude no seu aniversário, dia 12 de janeiro, todos o anos — Em 1963, na ocasião da Celebração do Centenário do Swami Vivekananda, a Índia recebeu um grande memorial de pedra, em Kanyakumari, o Vivekananda Rock Memorial. Todos os anos, milhões de pessoas de todo o mundo visitam o local. O Senhor Eknath Ranade foi a pessoa responsável por erigir este memorial. Ele também fundou a Vivekananda Kendra, uma organização voluntários não monásticos que trabalha para preencher os sonhos de Vivekananda.
Trabalhos
editarVivekananda deixou um corpo de trabalhos filosóficos (que estão compilados nas suas obras completas, sem edição em língua portuguesa). Seus livros sobre os quatro Yogas — Raja Yoga, Karma Yoga, Bhakti Yoga e Jnana Yoga — (compilados a partir de palestras dadas ao redor do mundo) são bastante influentes e vistos como textos fundamentais a qualquer um interessado na prática hindú do Yoga. Suas cartas são de grande valor literário e espiritual. Ele foi também considerado um ótimo cantor e poeta.[124] Pouco antes de morrer ele compôs muitas canções, incluindo a sua favorita, Kali the Mother (Kali, a Mãe). Ele usava seu senso de humor para dar seus ensinamentos e era também um excelente cozinheiro. Em português há algumas obras publicadas com ensinamentos e ou a vida do Swami. Entres estas, "O que é Religião", "Vivekananda, O professor Mundial" e "Karma Yoga".
Notas
editar- ↑ Vivekananda, Swami (19 de setembro de 1893). «Master visionary». The Hindu. Consultado em 9 de outubro de 2008
- ↑ Mukherjee, Dr. Jayasree (2004),
- ↑ Eastern and Western disciples 2006a, pp. 288–320
- ↑ Eastern and Western disciples 2006a, pp. 321–346
- ↑ Eastern and Western disciples 2006a, pp. 323–325
- ↑ Eastern and Western disciples 2006a, pp. 327–329
- ↑ Eastern and Western disciples 2006a, pp. 339–342
- ↑ Esta visão tem como suporte duas testemunhas. Um destes foi Ramasubba Iyer. Em 1919, quando Swami Virajananda, um discípulo de Swamiji, partiu em peregrinação para Kanayakumari, Iyer disse a ele que havia, ele mesmo, visto o Swami meditando na pedra por horas together, por três dias consecutivos... Outra testemunha, Sadashivam Pillai, disse que o Swami havia permanecido na pedra por três noites e havia visto ele aproximar-se a nado da pedra. Na manhão seguinte Pillai foi a pedra com comida para o Swami. Lá o encontrou meditando; e quando Pillai pediu a ele para retornar, este se recusou. Quando ele ofereceu comida ao Swami, ele mais tarde pediu para não ser perturbado. Ver, Eastern and Western disciples 2006a, pp. 344–346
- ↑ Agarwal, Satya P. (1998), «Swami Vivekananda and Indian Nationalism», Oxford University Press, Journal of Bible and Religion, 32 (1): 35–42,
Vivekananda, Tilak, and Gandhi form parts of one continuous process. Many of Gandhi's ideas on Hinduism and spirituality come close to those of Vivekananda.
- ↑ Ir para:a b c Banhatti 1995, pp. 34–35
- ↑ Thomas, Abraham Vazhayil (1974), Christians in Secular India, p. 44,
Vivekananda emphasized Karma Yoga, purposeful action in the world as the thing needful for the regeneration of the political, social and religious life of the Hindus.
- ↑ Miller, Timothy, «The Vedanta Movement and Self-Realization fellowship», America's Alternative Religions, p. 181,
Vivekananda era inflexível com relação ao fato de que o trabalhador social não deveria nunca acreditar que ela ou ele estava de fato melhorando o mundo, que é, no fim das contas, ilusório. O serviço deveria ser feito sem apego aos resultados finais. Desta maneira, o serviço social se torna Karma Yoga, que, no final, traz benefícios ao servidor, não aos que estão sendo servidos.
- ↑ Kraemer, Hendrik, «Cultural response of Hindu India», World Cultures and World Religions, p. 151
- ↑ Prabhananda 2003, p. 235
- ↑ LULLA, ANIL BUDUR (3 de setembro de 2007). «IISc looks to Belur for seeds of birth». The Telegraph
- ↑ Eastern and Western disciples 2006a, p. 291
- ↑ Banhatti 1995, pp. 35–36
- ↑ Eastern and Western disciples 2006b, p. 450
- ↑ Ir para:a b c Banhatti 1995, pp. 41–42
- ↑ «The Paris Congress of the History of Religions», Sri Ramakrishna Tributes.
- ↑ Katheleen M O'Connell. Life and Philosophy of Swami Vivekananda, ISBN 9788171562916, Atlantic Publishers & Distributors
- Bakshi, Rajni (1993), The Dispute Over Swami Vivekananda's Legacy
- Chetananda, Swami (1997), God lived with them: life stories of sixteen monastic disciples of Sri Ramakrishna, ISBN 0916356809, St. Louis, Missouri: Vedanta Society of St. Louis
- Prabhananda, Swami (2003), Complete Works of Swami Vivekananda, ISBN 978-8185301754, 9 Volumes Mayavati Memorial ed. , Advaita Ashrama
- Rolland, Romain (2008), 10.2307/1396757.
- Nikhilananda, Swami, Notes of Some Wanderings With the Swami Vivekananda
- Marie Louise Burke, Swami Vivekananda in the West: New Discoveries
- Dhar, Shailendra Nath (1976), A Comprehensive Biography of Swami Vivekananda, Vivekananda Prakashan Kendra
- Reminiscences of Swami Vivekananda, ISBN 81-85301-17-4, Advaita Ashrama
- Vivekananda: The Great Spiritual Teacher by A Compilation, ISBN 81-75051-47-7
- Chaturvedi Badrinath (2006), Swami Vivekananda The Living Vedanta, ISBN 0143062093, Penguin
- Swami Jyotirmayananda (2000), Textos completos na internet de Swami Vivekananda (em inglês)
- Raja Yoga - O Caminho Real, uma obra de Swami Vivekananda
- Frases de Vivekananda (em inglês)
- Links sobre Swami Vivekananda
- Palestra de Swami Vivekananda no Parlamento Mundial da Religião, em 1893 (em inglês) e outras palestras famosas, em áudio e por escrito.
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BARUCH ESPINOZA - Wikipédia

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Baruch (de) Espinoza (em hebraico: ברוך שפינוזה; Baruch Shpinoza, também referido como Baruch (de) Espinosa ou Baruch Spinoza[12][13]; na literatura em português, também como Bento (de) Espinosa e, após o chérem de 1656, como Benedictus de Spinoza[14] Amsterdã, 24 de novembro de 1632 – Haia, 21 de fevereiro de 1677)[15] foi um filósofo de origem judaico-portuguesa (sefardita), nascido nos Países Baixos, filho de uma família perseguida pela inquisição portuguesa, que se refugiara na Sinagoga Portuguesa de Amsterdão.[16][17] Baruch Espinoza é famoso pela identificação de Deus como Natureza; Deus na concepção spinozista é entendido como a totalidade da realidade, também chamado de "substância única", por ter infinitos atributos; "Deus, sive Natura" (em latim: Deus, sive Natura; lit. "Deus, ou Natureza").
Baruch Espinoza (em hebraico: ברוך שפינוזה; romaniz.: Baruch Shpinoza) | |
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Pseudônimo(s) | Baruch (de) Espinoza[1] |
Outros nomes | |
Nascimento | 24 de novembro de 1632 Amsterdã, Holanda |
Morte | 21 de fevereiro de 1677 (44 anos) Haia, Holanda |
Nacionalidade | holandês |
Etnia | judaica (sefardita) |
Progenitores | Mãe: Hanna Debora Marques Pai: Miguel de Espinoza |
Educação |
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Ocupação | |
Movimento literário | |
Magnum opus | |
Escola/tradição |
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Principais interesses | |
Ideias notáveis | |
Religião | |
Assinatura | |
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Um dos primeiros pensadores do Iluminismo[18] e da crítica bíblica moderna,[19] incluindo das modernas concepções de si mesmo e do universo,[20] ele veio a ser considerado um dos grandes racionalistas da filosofia do século XVII.[21] Inspirado pelas ideias inovadoras de René Descartes, Spinoza se tornou uma figura filosófica importante da Idade de Ouro Holandesa. O nome de batismo de Spinoza, que significa "Bem-aventurado", varia entre as diferentes línguas (em hebraico: ברוך; romaniz.: Broch). Na Holanda, usava o nome português (em português: Bento; romaniz.: lit. "Beatificado").[22] Em suas obras em latim e em holandês, usava a forma latina desse nome, Benedictus.
Spinoza foi criado na comunidade luso-judaica em Amsterdã. Ele desenvolveu ideias altamente controversas a respeito da autenticidade da Bíblia Hebraica e da natureza do Divino. Autoridades religiosas judaicas emitiram um chérem (em hebraico: חרם) contra ele, levando-o a ser efetivamente expulso e repudiado pela sociedade judaica, aos 23 anos, inclusive por sua própria família. Seus livros foram posteriormente adicionados ao Índice de Livros Proibidos da Igreja Católica. Ele era frequentemente chamado de "ateu" por seus contemporâneos, embora em nenhuma parte de sua obra Espinoza argumente contra a existência de Deus.[23]
Spinoza viveu uma vida aparentemente simples como um polidor de lentes ópticas, colaborando com Christiaan Huygens nos "designs" de microscópios e lentes de telescópio. Ele recusou recompensas e homenagens ao longo de sua vida, incluindo posições de ensino de prestígio. Morreu aos 44 anos em 1677 de uma doença pulmonar, talvez tuberculose ou silicose exacerbada pela inalação de pó de vidro fino durante o polimento de lentes. Ele está enterrado no cemitério cristão de Nieuwe Kerk, em Haia.[24]
No seu magnum opus, a Ética, publicado postumamente, no mesmo ano de sua morte, Espinoza contrapôs-se ao dualismo mente-corpo de Descartes. A obra viria a tornar-se um dos marcos da filosofia ocidental. "Espinoza escreveu a última obra-prima latina indiscutível, na qual as concepções refinadas da filosofia medieval são finalmente voltadas contra si mesmas e totalmente destruídas".[25] Sobre ele, Hegel diria: "O fato é que Espinoza se tornou um ponto de teste na filosofia moderna, de modo que realmente pode-se dizer: "ou você é um espinozista ou nem mesmo é um filósofo".[26] Suas realizações filosóficas e caráter moral levaram Gilles Deleuze a nomeá-lo "o 'príncipe' dos filósofos".[27]
Um dos grandes filósofos racionalistas do século XVII, dentro da chamada Filosofia moderna, já em seu tempo apontou importantes reflexões sobre os modos de viver e os caminhos escolhidos pelos seres humanos. Esses, com seus desejos insaciáveis, seus pensamentos prepotentes e suas ausências de conexão com a natureza, estabeleceram relações que, por si mesmas, julgaram importantes para suas vidas na Terra, mas que não passam de ideias inadequadas e de uma experiência vagante; ou seja, experiência de vida que não é determinada pelo conhecimento.[28]
Prenomes
Vida
editarFilho de uma família de fugitivos da Inquisição de Portugal, foi um profundo estudioso da Bíblia, do Talmude e de obras de judeus, como Moisés ben Maimon, (aportuguesado para Maimónides), Levi ben Gershon, Ibn Ezra, Hasdai Crescas, Ibn Gabirol, Moisés Cordovero e outros. Também dedicou-se ao estudo de Sócrates, Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro, Lucrécio e Giordano Bruno.
Ganhou fama por suas posições opostas à superstição. A sua frase Deus sive natura ("Deus ou Natureza") expressa um conceito filosófico e não religioso.
Notabilizou-se sobretudo por sua Ética demonstrada à maneira dos geômetras, escrita à maneira de um tratado de geometria, com postulados, definições e demonstrações.
Chérem
editar
Em 27 de julho de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdão puniu Espinoza com o chérem, o equivalente hebraico da excomunhão católica, em razão dos postulados a respeito de Deus contidos em sua Ética, na qual defende que Deus é o mecanismo imanente da natureza, e que a Bíblia é uma obra metafórico-alegórica, que não pede leitura racional e não exprime a verdade sobre Deus.[32]
O banimento (texto original, escrito em português)
editar“ | Os Senhores do Mahamad [Conselho da Sinagoga] fazem saber a Vosmecês: como há dias que, tendo notícia das más opiniões e obras de Baruch de Spinoza, procuraram, por diferentes caminhos e promessas, retirá-lo de seus maus caminhos e, não podendo remediá-lo — antes pelo contrário, tendo cada dia maiores notícias das horrendas heresias que cometia e ensinava, e das monstruosas ações que praticava, tendo disto muitas testemunhas fidedignas que deporão e testemunharão tudo, em presença do dito Spinoza, coisas de que ele ficou convencido, tudo examinado em presença dos senhores Hahamim [conselheiros] —, deliberaram com seu parecer que o dito Spinoza seja heremizado [excluído] e afastado da nação de Israel como de fato o heremizaram com o Herem anátema seguinte:
| ” |
Conforme Will Durant, o chérem de Espinoza pelos judeus de Amsterdã (à semelhança do episódio que levou à retratação e posterior suicídio de Uriel da Costa, em 1647) seria um gesto de "gratidão" por parte dos judeus para com o povo neerlandês. Embora os pensamentos de Costa não fossem totalmente estranhos ao judaísmo, contradiziam os pilares do cristianismo. Portanto, os judeus, perseguidos por toda a Europa na época, especialmente pelos governos ibéricos e pelos governos luteranos alemães, e que haviam recebido abrigo, proteção e tolerância dos calvinistas dos Países Baixos, não poderiam abrigar, no seio de sua comunidade, um pensador cujas heresias contrariassem também o pensamento cristão.
Pós-chérem
editarApós o chérem, adotou o primeiro nome "Benedictus" (termo latino para "Bendito", isto é, uma tradução do seu nome original, Bento ou Benedito), assim atestando seu desvencilho da religião judaica.
Para sua subsistência, trabalhava com polimento de lentes durante os períodos em que viveu em casas de famílias em Outerdek (próximo a Amsterdã) e em Rijnsburg, tendo recusado várias oportunidades e recompensas durante sua vida, em prestigiosas posições de ensino. Em 1670, mudou-se para a cidade da Haia, e desenvolveu suas principais obras. Convidado a lecionar na Universidade de Heidelberg, recusou porque teria de acatar as normas ideológicas da universidade e seria impossível continuar com a sua obra de forma independente. Uma vez que as reações públicas ao seu Tratado Teológico-Político não lhe eram favoráveis, absteve-se de publicar seus trabalhos. A Ética foi publicada após sua morte, na Opera Postuma editada por seus amigos.
Morte
editarMorreu em um domingo, 21 de fevereiro de 1677, aos 44 anos, vitimado pela tuberculose. Morava então com a família Van den Spyck, em Haia. A família havia ido à igreja e o deixara com o amigo doutor Meyer. Ao voltarem, encontraram-no morto. Encontra-se sepultado no pátio da Nieuwe Kerk, em Haia, nos Países Baixos.[33]
Traços físicos
editarConforme um dos seus primeiros biógrafos, Johannes Colerus (1647–1707), que o conheceu em Rijnsburg, Espinoza "era baixo, feições regulares, pele cor de oliva, cabelos pretos e crespos, sobrancelhas negras e bastas, denunciando claramente a ascendência de judeus sefardim (oriundos da Península Ibérica). No vestir, era muito descuidado, a ponto de quase se confundir com os cidadãos da mais baixa classe".[34]
Reconhecimento
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Suas obras fizeram com que fosse reconhecido em vida, tendo recebido cartas de figuras proeminentes como Henry Oldenburg da Royal Society; do inventor alemão Ehrenfried Walther von Tschirnhaus; do cientista holandês Huygens; de Leibnitz; do médico Louis Meyer, de Haia; e do rico mercador De Vries, de Amsterdã. Luís XIV ofereceu-lhe uma larga pensão para que Espinoza lhe dedicasse um livro. O filósofo recusou polidamente.
O príncipe de Condé, na chefia do exército da França que invadira a Holanda, novamente o convidou a aceitar uma pensão do rei da França e ser apresentado a vários admiradores. Espinoza, desta vez, aceitou a honraria, mas se viu em dificuldades ao retornar a Haia, por causa dessa suposta "traição". Porém, logo o povo, ao perceber que se tratava de um filósofo, um inofensivo, acalmou-se.
O monumento em homenagem a Espinoza, em Haia, foi assim comentado por Renan em 1882:
“ | Maldição sobre o passante que insultar essa suave cabeça pensativa. Será punido como todas as almas vulgares são punidas — pela sua própria vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que é divino. Este homem, do seu pedestal de granito, apontará a todos o caminho da bem-aventurança por ele encontrado; e por todos os tempos o homem culto que por aqui passar dirá em seu coração: Foi quem teve a mais profunda visão de Deus. | ” |
O retrato de Espinoza foi impresso nas antigas notas de 1 000 florins dos Países Baixos, até a introdução do euro, em 2002.
Pensamento
editarEspinosa defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, [30] a saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura ("Deus ou Natureza" em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós.
A sua visão da natureza da realidade, então, fez tratar os mundos físicos e mentais como dois mundos diferentes ou submundos paralelos que nem se sobrepõem nem interagem mas coexistem em uma coisa só que é a substância. Esta formulação é uma solução muitas vezes considerada um tipo de panteísmo e de monismo, e ainda de panenteísmo com influência cabalista,[35] como em sua divisão da Natura naturans e Natura naturata.[36] Espinosa era um racionalista e, por extensão, fundamentou seu sistema sobre o acompanhamento intelectual do Universo, como define ele em seu conceito de "Amor Intelectual de Deus".
Espinosa também propunha uma espécie de determinismo, segundo o qual absolutamente tudo o que acontece ocorre através da operação da necessidade, e nunca da teleologia. Para ele, até mesmo o comportamento humano seria totalmente determinado, sendo então a liberdade a nossa capacidade de saber que somos determinados e compreender por que agimos como agimos. Desse modo, a liberdade para Espinosa não é a possibilidade de dizer "não" àquilo que nos acontece, mas sim a possibilidade de dizer "sim" e compreender completamente porque as coisas deverão acontecer de determinada maneira.[37]
A filosofia de Espinosa tem muito em comum com o estoicismo, mas difere muito dos estoicos num aspecto importante: ele rejeitou fortemente a afirmação de que a razão pode dominar a emoção. Pelo contrário, defendeu que uma emoção pode ser ultrapassada apenas por uma emoção maior. A distinção crucial era, para ele, entre as emoções activas e passivas, sendo as primeiras aquelas que são compreendidas racionalmente e as outras as que não o são.
Substância
editarPara Espinoza, a substância não possui causa fora de si, ela é causa de si mesma, ou seja, uma causa sui. Ela é singular a ponto de não poder ser concebida por outra coisa que não ela mesma. Por ser causa de si, a substância é totalmente independente, livre de qualquer outra coisa, pois sua existência basta-se em si mesma. Ou seja, a substância, para que o entendimento possa formar seu conceito, não precisa do conceito de outra coisa. A substância é absolutamente infinita, pois se não o fosse, precisaria ser limitada por outra substância da mesma natureza.
Pela proposição VI da Parte I da Ética, ele afirma: "Uma substância não pode ser produzida por outra substância", portanto, não existe nada que limite a substância, sendo ela, então, infinita. Da mesma forma, a substância é indivisível, pois, do contrário, ao ser ela dividida, ou conservaria a natureza da substância primeira, ou não. Se conservasse, então uma substância formaria outra, o que é impossível de acordo com a proposição VI; se não conservasse, então a substância primeira perderia sua natureza, logo, deixaria de existir, o que é impossível pela proposição 7, a saber: "à natureza de uma substância, pertence o existir". Assim, a substância é indivisível.
Assim, sendo da natureza da substância absolutamente infinita existir e não podendo ser dividida, ela é única, ou seja, só há uma única substância absolutamente infinita ou Deus.
Apesar de ser denominado Deus, a substância de Espinoza é radicalmente diferente do Deus judaico-cristão, pois não tem vontade ou finalidade já que a substância não pode ser sem existir (se pudesse ser sem existir, haveria uma divisão e a substância seria limitada por outra, o que, para Espinoza, é absurdo, como foi explicado no parágrafo anterior). Consequentemente, o Deus de Espinoza não é alvo de preces e menos ainda exigiria uma nova religião.
Natureza humana
editarBaruch Espinoza viveu em um tempo onde recebeu diferentes influências, um tempo de transição, que marcava o início da modernidade. O filósofo teve que ser cauteloso na exposição de seu pensamento, porque muitos de seus colegas sofreram perseguição e foram até mortos. Para Espinoza, Deus e a natureza são uma coisa só, não havendo distinção entre eles. Essa concepção exclui ideias transcendentais e entra em choque com os que acreditam no direito divino para os reis, bem como com direitos naturais hereditários. Seu caráter naturalista exclui a ideia dualista de que haveria uma maneira natural de como as coisas deveriam ser. Muitos pensadores acreditavam que as coisas deveriam ser da maneira que são pela vontade de Deus: essa é uma diferença importante no pensamento de Espinoza.
O filósofo começa a expor seu pensamento acerca da natureza humana no livro Tratado Teológico-político. Nele, o autor explica como acredita que funcionam as economias dos Afetos e Desejos e de que maneira isso afeta como vivemos. No capítulo XVI/3, encontramos um exemplo: "O direito natural e cada homem definem-se, portanto, não pela razão sã, mas pelo desejo e pela potência". Ninguém, com efeito, está determinado a comportar-se conforme as regras e as leis da razão; ao contrário, todos nascem ignorantes de todas as coisas e a maior parte de suas vidas transcorre antes que possam conhecer a verdadeira regra da vida e adquirir o estado de virtude, mesmo que tenham sido bem educados. E eles não são menos obrigados a viver e a se conservar, nessa espera, pelo simples impulso do apetite, pois a natureza não lhes deu outra coisa, e recusou-lhes a potência atual de viver conforme a reta razão; logo, considerando submetido apenas ao império da natureza, tudo o que um indivíduo julgar como sendo-lhe útil, seja pela conduta da razão seja pela violência de suas paixões, é-lhe permitido desejar, em virtude desejar, em virtude de um soberano direito de natureza e tomar por qualquer via que seja, pela força, pela artimanha, por preces, enfim, pelo meio mais fácil que lhe pareça. Consequentemente, também ter por inimigo aquele que o quiser impedir de se satisfazer".[38]
Mais adiante, Espinoza vai argumentar que o uso da razão viria a partir de um exercício, mas que ainda estamos longe de chegar lá devido às paixões. O autor disserta: "Mas falta muito para que todos deixem-se facilmente se conduzir apenas pela razão; cada um se deixa levar por seu prazer e, mais amiúde, a avareza, a glória, a inveja, o ódio etc. ocupam a mente, de tal sorte que a razão não tem qualquer lugar".[39]
No ano de sua morte, Espinoza termina um outro livro, que seria uma continuação do anterior, dando sequência a seus pensamentos e sua teoria. No Tratado Político, título do novo livro, o filósofo também aborda, em diferentes momentos, a questão da natureza humana, bem como a força das paixões e os efeitos que elas produzem nos corpos. Logo no primeiro capítulo, o autor explica de que maneira ele tenta entender essas paixões e estudá-las, a fim de aplicá-las na sua teoria:
“ | Quando, por conseguinte, apliquei o ânimo à política, não pretendi demonstrar com razões certas e indubitáveis, ou deduzir, da própria condição humana, algo que seja novo ou jamais ouvido, mas só aquilo que está mais de acordo com a prática. E, para investigar aquilo que respeita a esta ciência com a mesma liberdade de ânimo que é costume nas coisas matemáticas, procurei escrupulosamente não rir, não chorar nem detestar as ações humanas, mas entendê-las. Assim não encarei os afetos humanos, como são o amor, o ódio, a ira, a inveja, a glória, a misericórdia e as restantes comoções do ânimo, como vícios da natureza humana, mas como propriedades que lhe pertencem, tanto como o calor, o frio, a tempestade, o trovão e outros fenômenos do mesmo gênero que pertencem à natureza do ar, os quais, embora sejam incômodos, são contudo necessários e têm causas certas mediante as quais tentamos entender sua natureza.[40] | ” |
O autor expõe seu pensamento com clareza acerca da sua discordância com o pensamento comum da época. Explicando o porquê de não acreditar que as pessoas agem exclusivamente através da razão: "Depois, na medida em que cada coisa se esforça, tanto quanto esta em si, por conservar o seu ser, não podemos de forma alguma duvidar de que, se estivesse tanto em nosso poder vivermos segundo os preceitos da razão como conduzidos pelo desejo cego, todos se conduziriam pela razão e organizariam sabiamente a vida, o que não acontece minimamente, pois cada um é arrastado pelo seu prazer".[41] Para o filósofo, as pessoas não se submetem ao estado por uma análise racional, mas por uma economia de seus desejos, sejam eles medo ou esperança. São as paixões que, em acordo com outras Paixões, encontram vontades comuns que permitem que as pessoas se agrupem em "estados" e, assim, se submetam de alguma maneira a algum sistema. Seja ele monárquico, aristocrático ou democrático. "Longe de ser fruto de uma ruptura com a natureza, o estado forma-se no âmbito dessa, mediante a dinâmica afetiva, ou passional, que associa ou põe em confronto os indivíduos". "Por isso também, a essência do político é impossível de se confundir com uma qualquer moldura racional de onde e no interior da qual as normas de conduta fossem deduzidas, de modo a imporem-se como condição necessária e legítima da paz e da estabilidade".[42]
Observamos que Espinoza defende uma espécie de sistema econômico de gerenciamento dos afetos, tanto por parte dos súditos, como do Soberano. Esse gerenciamento é subjetivo e acontece individualmente, com efeitos no coletivo. Cabe, aos súditos, sentirem sua Potência, a fim de preservar sua vida e maximizar sua liberdade, bem como ao soberano, de não impor sistema rígido demais que encurrale seus súditos a ponto de que esses se rebelem. O Estado mais "racional" é aquele que consegue entender as demandas da sua população e promover uma espécie de bem-estar. A paz imposta pelo medo, como ausência de guerra, é sempre temporária. O bem-estar de todos é o que ajuda a manter o Estado coeso. Esse sistema é precário e está sempre sujeito a avaliações e adequações para melhor atender a todos, defendendo, assim, até a manutenção do Estado pelo soberano. Espinoza entende o Estado como a potência da Multidão e define, no TP 2/17, os sistemas políticos que podem constituir esse Estado. O autor esclarece: "Detém-no absolutamente quem, por consenso comum, tem a incumbência da República, ou seja, de estatuir, interpretar e abolir direitos, fortificar as urbes, decidir sobre a guerra e a paz etc. E se essa incumbência pertencer a um conselho que é composto pela multidão comum, então o Estado chama-se Democracia; mas se for composto só por alguns eleitos, chama-se Aristocracia; e se, finalmente, a incumbência da República e, por conseguinte, o Estado, estiver nas mãos de um só, então chama-se Monarquia".[43] Com isso, podemos concluir o pensamento de Espinoza e entender como a Natureza age sobre as — e através das — potências de todos e como isso influencia o Estado e o sistema político.
Os afetos: o desejo, a alegria e a tristeza
editarOs corpos individualizam-se em razão do "movimento e do repouso", da "velocidade e lentidão" e não em função de alguma substância particular (escólio 1 da proposição 13 da parte 2 da Ética), e a identidade individual através do tempo e da mudança consiste na manutenção de uma determinada proporção de movimento e repouso das partes do corpo (proposição 13 da parte 2 da Ética). O corpo humano é um complexo de corpos individuais e é capaz de manter suas proporções de movimento e de repouso ao passar por uma ampla variedade de modificações impostas pelo movimento e repouso de outros corpos. Essas modificações são o que Espinoza chama de "afecções".[44]
Uma afecção que aumenta a capacidade do corpo de manter suas proporções características de movimento e repouso aumenta a "potência de agir" e tem, em paralelo, na mente, uma modificação que aumenta a "potência de pensar". A passagem de uma potência menor para uma maior é o "afeto de alegria" (definição dos afetos, parte 2 da Ética). Uma afecção que diminui a potência do corpo de manter as proporções de movimento e repouso diminui a potência de agir e tem, em paralelo, na mente, uma diminuição da potência de pensar. A passagem de uma potência maior para uma menor é o "afeto de tristeza". Já uma afecção que ultrapassa as proporções de movimento e repouso dos corpos que compõe o corpo humano destrói o corpo humano e a mente (morte).
Os indivíduos (mentes e corpos) esforçam-se em perseverar em sua existência tanto quanto podem (proposição 6 da parte 3 da Ética). Eles sempre se esforçam para ter alegria, isto é, um aumento de sua potência de agir e de pensar e eles sempre se opõem ao que lhes causa tristeza, ou seja, aquilo que diminui sua capacidade de manter as proporções de movimento e repouso características de seu corpo. O esforço por manter e aumentar a potência de agir do corpo e de pensar da mente é o que Espinoza chama de "desejo" (conatus).
Não é por julgarmos uma coisa boa que nos esforçamos por ela, que a queremos, que a apetecemos, que a desejamos, mas, ao contrário, é por nos esforçarmos por ela, por querê-la, por apetecê-la, por desejá-la, que a julgamos boa.
– Espinoza, Ética, parte 3, proposição 9 esc.
As afecções que são atribuídas à "ação" do corpo humano testemunham o aumento de sua potência de agir e de pensar e, por isso, o afeto de alegria sempre impulsiona a atividade. Em contraste, as afecções que diminuem a potência de agir e de pensar (provocando tristeza) testemunham sempre a passividade do corpo humano, são sempre passivas, são "paixões" (do grego pathos, "sofrer uma ação").
Para Espinoza, a ilusão dos homens de que suas ações resultam de uma livre decisão da mente é consequência de eles serem conscientes apenas de suas ações enquanto ignoram as causas pelas quais são determinados, o que faz com que suas ações sejam determinadas pelas "paixões". Isso é o que ele chama de "primeiro gênero de conhecimento", "imaginação" ou "ideias inadequadas" (a consciência de nossos afetos, e a inconsciência do que os determina). O "segundo gênero de conhecimento" são as "noções comuns" ou "ideias adequadas", que caracterizam-se pela consciência do que nos determina a agir. As ideias adequadas sempre são efeitos da alegria, acarretam alegria e impulsionam a atividade, enquanto a imaginação (ideias inadequadas) caracteriza-se pela passividade e pelo acaso de causar ou ser efeito da alegria ou da tristeza.
[…] uma criancinha acredita apetecer, livremente, o leite; um menino furioso, a vingança; e o intimidado, a fuga. Um homem embriagado também acredita que é pela livre decisão de sua mente que fala aquilo sobre o qual, mais tarde, já sóbrio, preferiria ter calado. Igualmente, o homem que diz loucuras, a mulher que fala demais, a criança e muitos outros do mesmo gênero acreditam que assim se expressam por uma livre decisão da mente, quando, na verdade, não são capazes de conter o impulso que os leva a falar. Assim, a própria experiência ensina, não menos claramente que a razão, que os homens se julgam livres apenas porque são conscientes de suas ações, mas desconhecem as causas pelas quais são determinados. Ensina também que as decisões da mente nada mais são do que os próprios apetites: elas variam, portanto, de acordo com a variável disposição do corpo. Assim, cada um regula tudo de acordo com o seu próprio afeto e, além disso, aqueles que são afligidos por afetos opostos não sabem o que querem, enquanto aqueles que não têm nenhum afeto são, pelo menor impulso, arrastados de um lado para outro. Sem dúvida, tudo isso mostra claramente que tanto a decisão da mente, quanto o apetite e a determinação do corpo são, por natureza, coisas simultâneas, ou melhor, são uma só e mesma coisa, que chamamos decisão quando considerada sob o atributo do pensamento e explicada por si mesma, e determinação, quando considerada sob o atributo da extensão e deduzida das leis do movimento e do repouso […]
– Espinoza, Ética, parte 3, proposição 2 esc.
A grande inovação da ética de Espinoza foi que, nela, a razão não se opõe aos afetos, pelo contrário, a própria razão é um afeto, um desejo de encontrar ou criar as oportunidades de alegria na vida e de evitar ou desfazer ao máximo as circunstâncias que causam tristeza, mas o próprio desejo-razão (do mesmo modo que os outros tipos de afetos) não depende da vontade livre, mas de afecções que fogem ao controle do indivíduo porque são modos da substância única infinita, que não tem finalidade nem providência. Em diversas obras (Tratado Político, Ética) diz ser nocivo (no sentido de diminuir a potência de agir e de pensar) ridicularizar ou reprovar alguém dominado pelas paixões, porque isso não depende da livre decisão da mente. O único modo de o homem que se guia pela razão ajudar aos outros é, nas palavras de Espinoza:
Não rir nem chorar, mas compreender.
– Espinoza, Tratado Político
A ética de Espinoza é a ética da alegria. Para ele, só a alegria é boa, unicamente a alegria nos leva ao amor (que ele define como a ideia de alegria associada a uma causa exterior) no cotidiano e na convivência com os outros, enquanto a tristeza sempre é má, intrinsecamente relacionada ao ódio (que ele define como a ideia de tristeza associada a uma causa exterior), a tristeza sempre é destrutiva para nós e para os outros.
O terceiro gênero de conhecimento - beatitude
editarAlém dos dois gêneros citados anteriormente, Espinoza afirma ainda um terceiro, chamado beatitude. Esse conhecimento caracteriza-se por compreender, nas coisas singulares, o aspecto da eternidade (sub specie aeternitatis). Seria algo como ver as coisas singulares como inseparáveis dos modos da substância infinita e eterna (Deus), compreendendo que as coisas singulares são elas mesmas eternas, existindo fora do tempo. Esse é um dos conceitos de Espinoza mais controversos e discutidos.[45]
Influência
editarEspinoza foi considerado maldito por muitos anos após sua morte. Quem recuperou sua reputação foi o crítico alemão Gotthold Ephraim Lessing em seus diálogos com Johann Jakob Reiskei , em 1784. Na sequência, o filósofo foi citado, elogiado e inspirou pessoas como os teólogos liberais Johann Gottfried von Herder e Friedrich Schleiermacher, o poeta católico Novalis e o polímata Johann Wolfgang von Goethe.
Da combinação do pensamento de Espinoza com a epistemologia de Immanuel Kant, saíram os "panteísmos" de Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling e de Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Influenciou os conceitos de Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche e Henri Bergson "vontade de viver", "vontade de poder" e "élan vital", respectivamente. Inspirou o pensador inglês Samuel Taylor Coleridge, bem como os poetas, também ingleses, William Wordsworth e Shelley.
No Brasil, Bader Burihan Sawaia trouxe a influência de Espinoza para a Psicologia Sócio-Histórica, enfatizando, em bases materialistas-dialéticas, a importância da afetividade como categoria fundamental do psiquismo.[46]
Obra
editarLivros
editara) Publicados "post mortem":
Escritos em latim:[47]
- Ética demonstrada à maneira dos geômetras (Ethica Ordine Geometrico Demonstrata) — iniciado em Rijnsburg e finalizado em Haia em 1675;
- Tratado Político (Tractatus Politicus), depois incluído na Ética; 1677.
- Tratado sobre o Cálculo Algébrico do Arco-Íris, 1687.
- Tratado sobre o Cálculo das Probabilidades, 1687.
- Compêndio de Gramática da Língua Hebraica, inacabado.
Escritos em holandês:
- Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar (Korte Verhandeling van Deus, de Mensch en deszelvs Welstand), esboço da Ética, 1660
b) Publicados:
- Tratado sobre a Correção do Intelecto (De Intellectus Emendatione), também publicado na língua portuguesa com os títulos: Tratado para Emendar o Intelecto (Editora Unicamp), Tratado da Reforma da Inteligência (Editora Martin Fontes), Tratado da Reforma do Entendimento (Editora Escala), 1662.
- Princípios da Filosofia de Descartes, publicado junto com seu apêndice Pensamentos Metafísicos. Espinosa revela seu afastamento cada vez maior em relação a várias teses de Descartes, embora pareça apenas servir-se do cartesianismo para refutar a escolástica, 1663.
Bibliografia
editarSobre Espinoza
editar- Gabriel Albiac, 1987. La sinagoga vacía: un estudio de las fuentes marranas del espinosismo. Madrid: Hiperión D.L. ISBN 84-7517-214-8
- Étienne Balibar, 1985. Spinoza et la politique ("Spinoza and politics") Paris: PUF.
- Boucher, Wayne I., 1999. Spinoza in English: A Bibliography from the Seventeenth Century to the Present. 2nd ed. Thoemmes Press.
- ———, ed., 1999. Spinoza: Eighteenth and Nineteenth-Century Discussions. 6 vol. Thommes Press.
- Damásio, António 2003. Looking for Spinoza: Joy, Sorrow, and the Feeling Brain, Harvest Books, ISBN 978-0-15-602871-4
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Traduções
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- Tratado Teológico-político. Organização J. Guinsburg, Newton Cunha, Roberto Romano. Tradução J. Guinsburg, Newton Cunha. 1 ed. São Paulo: Perspectiva, 2014.
- Ética. Tradução de Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
- Victor Civita. Editor. Os Pensadores: Espinoza. São Paulo: Abril Cultural, 1983, 3a edição.
- Inclui as seguintes obras: Pensamentos Metafísicos, Tratado da Correção do Intelecto, Ética, Tratado Político, Correspondência. Inclui também "Espinoza: Vida e Obra", de Marilena de Souza Chauí
- Ética. Tradução: Grupo de Estudos Espinosanos. São Paulo: EDUSP, 2015.
- Princípios da Filosofia Cartesiana e Pensamentos Metafísicos. Tradução: Homero Santiago e Luís César Oliva. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
- Tratado da Emenda do Intelecto. Tradução: Cristiano Novaes de Rezende. Campinas: Editora da UNICAMP, 2015.
- Breve Tratado. Tradução: Emanuel Ângelo R. Fragoro e Luís César Oliva. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
- Para o francês
- Oeuvres III: Éthique. Paris: GF-Flammarion, 1965. Tradução: Charles Appuhn.
Estudos introdutórios
editar- Sobre a filosofia de Espinoza
- Stuart Hampshire. 1951. London: Penguin Books, 1953, reimpressão.
- Sobre a Ética
- Charles Appuhn. "Notice sur l'Éthique". In: Spinoza, Oeuvres III: Éthique. Paris: GF-Flammarion, 1965.
Tópicos espinozanos
editar- Subjetividade, intersubjetividade e individualidade
- Martial Gueroult. 1974. Spinoza II: L'Âme. Millau: Aubier, 2001.
- Alexandre Matheron. 1969. Individu et Communauté chez Spinoza. Paris: Les Editions de Minuit, 1988, V+647 páginas.
- Nova edição da obra original à qual foi acrescida uma advertência na qual o autor diz que nada modifica no texto e remete aos seus outros trabalhos para maiores desenvolvimentos dos estudos espinozanos presentes no livro.
- Alexandre Matheron. 1986. Anthropologie et Politique au 17e siècle. Vrin.
- Liberdade
- Robert Sleigh Jr., Vere Chappell e Michael Della Rocca. "Determinism and human freedom." In Daniel Garber e Michael Ayers, eds, The Cambridge history of seventeenth-century philosophy, volume II, capítulo 33. Cambridge, New York e Melbourne: Cambridge University Press, 1998, pp 1226-1236.
- Sabedoria
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Ver também
editarReferências
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Notas
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Ligações externas


Leia mais: https://iehouah-com.webnode.page/baruch-espinoza/
RALPH WALDO EMERSON - Wikipédia
Ralph Waldo Emerson (Boston, 25 de maio de 1803 - Concord, Massachusetts, 27 de abril de 1882) foi um famoso escritor, filósofo e poeta estadunidense. Conhecido por ter sido o criador da escola de filosofia "transcendentalista" norte-americana.[1][2]
Ralph Waldo Emerson | |
---|---|
Nome completo | Ralph Waldo Emerson |
Escola/Tradição | Transcendentalismo |
Data de nascimento | 25 de maio de 1803 |
Local | Boston, Massachusetts, ![]() |
Morte | 27 de abril de 1882 (78 anos) |
Local | Concord, Massachusetts |
Principais interesses | Individualismo, misticismo |
Era | Filosofia do século XIX |
Influências | Michel de Montaigne, Henry David Thoreau, Emanuel Swedenborg, Hegel, Platão |
Influenciados | Friedrich Nietzsche, William James, Henry David Thoreau, Émile Armand, Emma Goldman, Marcel Proust, Harold Bloom, Ivan Cankar, Robert Musil |
Emerson fez seus estudos em Harvard para se tornar, como seu pai, ministro religioso. Foi pastor em Boston mas interrompeu essa atividade por divergências doutrinárias sobre a eucaristia.
Em 1833 viaja pela Europa e encontra Mill, Coleridge, Wordsworth e Carlyle, cultivando uma profunda amizade com este último.
O Transcendentalismo é, para Emerson, um esforço de introspecção metódica para se chegar além do "eu" superficial ao "eu" profundo, o espírito universal comum a toda a espécie humana.
O clube transcendentalista de Concord, ao qual pertenciam entre outros Thoreau e Margareth Füller, e cujo órgão oficial era a revista The Dial, exercia grande influência sobre a vida intelectual americana do século XIX.
Primeiros anos e educação
editarEmerson nasceu em Boston, no estado do Massachusetts, no dia 25 de maio de 1803,[3] filho de Ruth Haskins e do Reverendo William Emerson, um ministro unitariano. Ele recebeu o nome em honra do irmão da sua mãe, Ralph e da bisavó do seu pai, Rebecca Waldo.[4] Emerson era o segundo de cinco filhos que chegaram à idade adulta. Os seus irmãos chamavam-se William, Edward, Robert Bulkeley e Charles.[5] Ele teve mais duas irmãs e um irmão que faleceram na infância: Phoebe, John Clarke e Mary Caroline.[5] Os antepassados de Emerson eram todos ingleses que se mudaram para Nova Inglaterra no início do período colonial.[6]
O pai de Emerson morreu de cancro no estômago em 12 de maio de 1811, menos de duas semanas antes do aniversário de Emerson.[7] Ele foi criado pela sua mãe com a ajuda de outras mulheres da sua família: a sua tia Mary Moody Emerson em particular influenciou-o bastante. Ela viveu com a família durante certos períodos de tempo e manteve correspondência regular com Emerson até à sua morte em 1863.
A educação formal de Emerson teve início na Boston Latin School em 1812, quando ele tinha nove anos de idade. Em outubro de 1817, aos 14 anos, Emerson ingressou na Harvard College e foi nomeado porta-voz dos caloiros. A função de Emerson era reunir os estudantes delinquentes e enviar mensagens à administração. A meio do seu terceiro ano, Emerson começou a manter uma lista dos livros que lia e começou a escrever um diário repartido por vários cadernos ao qual chamaria "Wide World". Emerson trabalhou como empregado de mesa e deu aulas para cobrir as suas despesas de educação. No seu último ano de universidade, Emerson decidiu que queria ser tratado pelo seu nome do meio: Waldo. Ele foi nomeado Poeta da Turma e, seguindo a tradição, apresentou um poema original no Class Day da Universidade de Harvard, um mês antes do seu dia de formatura em 29 de agosto de 1821, quando tinha 18 anos. Emerson não foi um aluno brilhante e ficou exatamente a meio da classificação da sua turma de 59 pessoas.
Em 1826, devido a problemas de saúde, Emerson começou a procurar um local com um clima mais quente para viver. Primeiro, mudou-se para Charleston na Carolina do Sul, mas achou que o clima de lá ainda era demasiado frio. Chegou ainda a viver em St. Augustine, na Flórida, onde dava longos passeios na praia e começou a escrever poesia. Enquanto vivia em St. Augustine, conheceu o príncipe Achille Murat, sobrinho de Napoleão Bonaparte. Murat era dois anos mais velho do que ele e os dois tornaram-se grandes amigos. Os dois tinham conversas profundas sobre a religião, a sociedade, filosofia e o governo. Emerson considerava Murat uma figura importante no desenvolvimento da sua educação intelectual.
Em St. Augustine, Emerson observou pela primeira vez a escravatura. Certo dia, participou numa reunião da Sociedade da Bíblia enquanto decorria um leilão de escravos no pátio do edifício. Ele escreveu: "Assim, uma orelha ouvia boas novas de grande felicidade, enquanto a outra se regalava com 'Vendido, senhores, vendido!'".
Primeiros trabalhos
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Depois de se formar em Harvard, Emerson ajudou o seu irmão William numa escola para jovens mulheres que ele tinha criado na casa da sua mãe.[8][9] Quando William foi estudar teologia em Gotinga, Emerson ficou responsável pela escola.[10] Nos anos que se seguiram, Emerson ganhou a vida como diretor da escola, antes de regressar a Harvard para estudar teologia. O irmão de Emerson, Edward, dois anos mais novo do que ele, também estudou em Harvard, tendo concluído o curso de Direito com as melhores notas da sua turma.[11] A saúde de Edward começou a deteriorar-se e ele teve um esgotamento, tendo sido internado no asilo McLean em junho de 1828 aos 25 anos de idade. Apesar de ter recuperado a sua saúde mental, Edward viria a falecer em 1834 do que se pensa ter sido tuberculose.[12] O seu outro irmão mais novo, o inteligente e promissor Charles, nascido em 1808, também morreu de tuberculose em 1836.[13]
Emerson conheceu a sua primeira mulher, Ellen Louisa Tucker, em Concord, New Hampshire no dia de Natal de 1827 e casou-se com ela quando ela tinha 18 anos.[14] O casal mudou-se para Boston e viveu com a mãe de Emerson. Esta ajudou-o a cuidar de Ellen que tinha contraído tuberculose.[15] Dois anos mais tarde, em 8 de fevereiro de 1831, Ellen morreu com 20 anos de idade, as suas últimas palavras foram: "Já não sei o que é ter paz e alegria".[16] Emerson ficou bastante afetado pela sua morte e visitava a sua campa em Roxbury todos os dias. Chegou a escrever no seu diário, no dia 29 de março de 1832: "Visitei o túmulo da Ellen e abri o caixão".[17]
A Second Church, uma igreja unitária de Boston, convidou Emerson para ser seu pastor e ele foi ordenado em 11 de janeiro de 1829.[18] Para além das eucaristias, as funções do pastor incluíam ser capelão da legislatura do Massachusetts e membro do comité de educação de Boston. As suas atividades na igreja mantiveram-no ocupado durante este período, mas a morte iminente da mulher fê-lo questionar a sua fé.
Após a morte da mulher, ele começou a discordar dos métodos da igreja e escreveu no seu diário em 1832: "Já cheguei a pensar que, para ser um bom pastor, era preciso deixar de ser pastor. A profissão é antiquada. Numa época mudada, veneramos com os mesmos métodos mortos dos nossos antepassados".[19] Os seus desentendimentos com os oficiais da igreja relativamente à administração da Comunhão e a sua apreensão em relação a rezar em público levaram a que apresentasse a sua demissão em 1832. Ele escreveu: "Este modo de comemorar Cristo não serve para mim. Isso é razão suficiente para o abandonar".[20]
Emerson viajou pela Europa em 1833 e, mais tarde, escreveu sobre as suas viagens no livro English Traits (1856).[21] Ele partiu a bordo do brigue Jasper no dia de Natal de 1832 e fez a sua primeira paragem em Malta.[22] Durante a sua viagem pela Europa, ele passou vários meses em Itália, onde visitou Roma, Florença e Veneza, entre outras cidades. Em Roma encontrou-se com John Stuart Mill que lhe escreveu uma carta de recomendação para conhecer Thomas Carlyle. Na Suíça ele foi obrigado pelos seus companheiros de viagem a visitar a casa de Voltaire em Ferney "sempre contrariado por não reconhecer mérito à sua homenagem".[23] Depois foi a Paris, "um sítio moderno e barulhento ao estilo de Nova Iorque", onde visitou o Jardin des Plantes. Ele ficou bastante impressionado com a organização das plantas de acordo com o sistema de classificação de Jussieu e como tudo se relacionava. Como escreveu Richardson: "O momento de compreensão por parte de Emerson da interligação das coisas no Jardin des Plantes foi um momento de uma intensidade quase visionária que o afastou da teologia e o aproximou da ciência".[24]
Na Inglaterra, Emerson conheceu William Wordsworth, Samuel Taylor Coleridge e Thomas Carlyle. Carlyle em particular, teve uma grande influência nele. Emerson acabaria por ser o seu agente literário não oficial nos Estados Unidos e, em março de 1835, tentou persuadi-lo a visitar a América para dar seminários. Os dois trocaram correspondência até à morte de Carlyle em 1881.

Emerson regressou aos Estados Unidos em 9 de outubro de 1833 e foi viver com a sua mãe em Newton, Massachusetts até outubro de 1834. Nessa altura mudou-se para Concord no Massachusetts para viver com Dr. Ezra Ripley, o seu avô por afinidade.[25] Emerson estava atento ao Lyceum Movement (uma série de organizações que apoiavam programas e entretenimento para o público) e viu uma oportunidade de carreira como conferencista. Em 5 de novembro de 1833 deu a primeira de 1500 conferências sobre "As Utilidades da História Natural", em Boston. A conferência consistia num relato da sua experiência em Paris e serviu para estabelecer algumas crenças e ideias importantes que viria a desenvolver no seu primeiro ensaio publicado: Nature.[26]
A Natureza é uma língua, e cada novo facto que aprendemos é uma nova palavra; mas esta não é uma língua repartida em pedaços e morta num dicionário, mas antes uma língua construída num sentido mais significativo e universal. Quero aprender esta língua, não para conhecer uma nova gramática, mas para poder ler o grande livro que está escrito nesse idioma.[27]
Em 24 de janeiro de 1835, Emerson escreveu uma carta a Lydia Jackson a pedi-la em casamento. A carta de aceitação chegou no dia 28 de janeiro. Em julho de 1835, ele comprou uma casa em Concord que chamou de "Bush" e que é atualmente um museu: o Ralph Waldo Emerson House. Emerson tornou-se rapidamente num dos residentes mais importantes da cidade. Ele deu uma conferência para comemorar o 200º aniversário de Concord em 12 de setembro de 1835 e, dois dias depois, casou-se com Lydia Jackson na cidade natal dela em Plymouth, Massachusetts. O casal mudou-se para a casa que Emerson tinha comprado no dia 15 de setembro. Ralph e Lydia tiveram quatro filhos: Waldo, Ellen (que recebeu o seu nome em honra da primeira mulher de Emerson), Edith e Edward Waldo Emerson.[28]
Carreira literária e transcendentalismo
editar
De volta aos Estados Unidos, começou a desenvolver sua filosofia "transcendentalista", exposta em obras como Natureza, Ensaios e Sociedade e solidão.[2]
No dia 8 de setembro de 1836, na véspera da publicação de Nature, Emerson encontrou-se com Frederic Henry Hedge, George Putnam e George Ripley com o objetivo de planear reuniões periódicas com outros intelectuais com ideais similares aos seus. Este foi o início do Clube Transcendente, que serviu de centro para o movimento. A primeira reunião oficial realizou-se em 19 de setembro de 1836. Em 1 de setembro de 1837, a reunião recebeu as primeiras mulheres. Emerson convidou Margaret Fuller, Elizabeth Hoar e Sarah Ripley para jantar na sua casa antes da reunião para garantir que elas estariam presentes na mesma. Fuller em particular tornou-se numa figura importante do transcendentalismo.
O primeiro ensaio de Emerson, Nature, publicado de forma anónima em 9 de setembro de 1836, marcou a introdução do Transcendentalismo nos EUA e atribuiu a Emerson o título de fundador do movimento transcendentalista.[2] Um ano mais tarde, em 31 de agosto de 1837, ele deu o seu famoso discurso, "The American Scholar" , na altura intitulado "An Oration, Delivered before the Phi Beta Kappa Society at Cambridge" na Universidade de Harvard. O seu título foi alterado para uma coleção de ensaios (que incluía Nature) em 1849. Os seus amigos encorajaram-no a publicar o discurso, o que ele fez, à sua custa, numa edição de 500 cópias que esgotou no espaço de um mês. No discurso, Emerson declarou a independência literária dos Estados Unidos e incitou os americanos a criarem um estilo de literatura que fosse seu e livre da Europa. James Russell Lowell, que estudava em Harvard na altura, disse que o discurso de Emerson foi "um acontecimento sem precedentes nos nossos anais literários". Outro membro do público, o Reverendo John Pierce, chamou-o "um discurso aparentemente incoerente e incompreensível".
Em 1837, Emerson tornou-se amigo de Henry David Thoreau e, em março desse ano, deu uma série de palestras sobre a filosofia da história no Masonic Temple em Boston. Esta foi a primeira vez que deu palestras sozinho e marcou o início da sua carreira como conferencista. Os lucros das palestras foram muito maiores do que a organização lhe pagou para falar e ele passou a organizar as suas palestras. A certa altura, Emerson dava cerca de 80 palestras por ano e viajava por todo o norte dos Estados Unidos e até St. Louis, Des Moines, Minneapolis e Califórnia.
Em 15 de julho de 1838, Emerson foi convidado para discursar no dia da formatura do Divinity Hall da Harvard Divinity School, discurso que viria a ser conhecido como "Divinity School Address". Emerson desvalorizou os milagres da Bíblia e proclamou que, ainda que Jesus fosse um grande homem, Ele não era Deus. Disse ainda que o Cristianismo histórico tinha tornado Jesus num "semideus, da mesma forma que os orientais ou os gregos descreviam Osíris ou Apolo". Os seus comentários chocaram a comunidade religiosa e Emerson foi acusado de ser ateísta e de envenenar as mentes dos jovens. Emerson nunca respondeu às críticas e não foi convidado a discursar em Harvard durante trinta anos.
O grupo transcendentalista começou a publicar o seu próprio jornal, o The Dial, em julho de 1840. George Ripley era o diretor, Margaret Fuller foi a primeira editora e escolhida a dedo por Emerson depois de várias pessoas terem recusado a função. Fuller trabalhou dois anos no jornal até Emerson assumir a sua função. Emerson utilizou o jornal como recurso para promover jovens escritores como Ellery Channing e Henry David Thoreau.
Em 1841, Emerson publicou Essays, o seu segundo livro, que incluía o famoso ensaio "Self-Reliance". A sua tia disse que o livro era "uma mistura estranha de ateísmo e falsa independência", mas ele recebeu críticas positivas em Londres e em Paris. Este trabalho ajudou, mas do que qualquer outro, a cimentar a fama internacional de Emerson.
Em janeiro de 1842, o filho mais velho de Emerson, Waldo, morreu de escarlatina. Emerson escreveu o poema "Threnody" ("For this losing is true dying") e o ensaio "Experience" em luto. Nesse mês. nasceu William James e Emerson aceitou ser seu padrinho.
Em novembro de 1842, Amos Bronson Alcott anunciou os seus planos de procurar "uma quinta de cem acres em excelentes condições, com bons edifícios e um bom pomar e terrenos". Charles Lane comprou uma quinta de 90 acres (360 000 m2) em Harvard em maio de 1843. Essa quinta viria a tornar-se na Fruitlands, uma comunidade baseada em ideais utópicos inspirados, em parte, pelo transcendentalismo. A quinta seria gerida numa base de comunidade e sem recorrer a animais para realizar as tarefas, os seus participantes não poderiam comer carne, nem vestir-se com lã ou couro. Emerson disse que se sentia "triste, no fundo" por não participar na experiência. No entanto, ele era da opinião de que a Fruitlands não iria vingar: "Toda a sua doutrina é espiritual, mas acabam sempre por dizer: 'Deem-nos muitas terras e dinheiro'". O próprio Alcott admitiu que não estava preparado para as dificuldades que surgiram na gestão da Fruitlands: "Ninguém estava preparado para pôr em prática a vida ideal com que sonhamos. Por isso, tudo se desmoronou", escreveu. Após o seu falhanço, Emerson ajudou Alcott a comprar uma quinta para a sua família em Concord, que Alcott chamou de "Hillside".
O The Dial deixou de ser publicado em abril de 1844. Horace Greeley disse que o fecho do jornal representava o fim de "um dos jornais mais originais e profundos jornais alguma vez publicados neste país". Nesse mesmo ano, Emerson publicou a sua segunda coletânea de ensaios: Essays: Second Series. Esta coletânea incluía "The Poet", "Experience", "Gifts" e um ensaio intitulado "Nature" distinto do seu primeiro.
Emerson ganhou a vida como um conferencista popular em Nova Inglaterra e no resto do país. Depois de ter iniciado a sua carreira como conferencista em 1833, em meados da década de 1850, dava cerca de 80 palestras por ano. Ele discursou na Boston Society for the Diffusion of Useful Knowledge e no Gloucester Lyceum, entre outros. Emerson falava de uma grande variedade de temas e muitos dos seus ensaios vinham das suas palestras. Ele cobrava entre 10 e 50 dólares por cada aparição e ganhava até 2000 dólares por cada temporada de palestras. Ao longo da sua vida, ele deu cerca de 1500 palestras e os seus rendimentos permitiram-lhe expandir a sua propriedade.
Emerson tomou conhecimento da filosofia nativo-americana através dos trabalhos do filósofo francês Victor Cousin. Em 1845, os diários de Emerson mostram que ele estava a ler Bhagavad Gita e Essays on the Vedas de Henry Thomas Colebrooke. Ele foi bastante influenciado por Vendata e muito do que escreveu pode ser interpretado como não-dualismo. Um dos exemplos mais claros disso encontra-se no seu ensaio "The Over-soul".
Vivemos em secessão, em divisão, em partes, em partículas. E, entretanto, dentro do Homem habita a alma do todo: o silêncio sensato, a beleza universal com a qual se relacionam, de igual modo, todas as partes e partículas, o eterno UM. E este poder profundo no qual existimos e cuja beleza se encontra completamente acessível a todos nós, não é apenas autosuficiente e perfeito a todo o momento, mas a ação de ver e a coisa vista, o observador e o espetáculo, o subjetivo e o objetivo, são um. Vemos o mundo pedaço a pedaço, como o sol, a lua, o animal, a árvore, mas o todo, do qual estas são as partes que brilham, é a alma.

Entre 1847 e 1848, Emerson viajou pela Inglaterra, pela Escócia e pela Irlanda. Visitou também Paris entre a Revolução Francesa de 1848 e a sangrenta Revolução de Junho. Quando chegou, viu os cepos das árvores que foram cortadas para construir barricadas nos motins de fevereiro. No dia 21 de maio, Emerson esteve no Champ de Mars durante a Festa da Concórdia. Ele escreveu no seu diário: "No final do ano vamos fazer um balanço e ver se a Revolução compensa as árvores". Esta viagem influenciou bastante o trabalho posterior de Emerson. O seu livro English Traits, publicado em 1856, baseia-se em grande parte em observações registadas nos seus diários e cadernos. Mais tarde, Emerson concluiu que a Guerra Civil Americana foi uma "revolução" que teve muito em comum com as revoluções europeias de 1848.
Em fevereiro de 1852, Emerson, James Freeman Clarke e William Henry Channing trabalharam numa reedição da obra e da correspondência de Margaret Fuller, que tinha falecido em 1850. Uma semana após a sua morte, o seu editor de Nova Iorque, Horace Greeley, sugeriu a Emerson que preparasse rapidamente uma biografia chamada Margaret and Her Friends "antes que o interesse que surgiu devido à sua morte triste passe". Publicada com o título The Memoirs of Margaret Fuller Ossoli, as palavras de Fuller foram profundamente censuradas ou reescritas. Os três editores não estavam interessados nos factos: eles acreditavam que o interesse público em Fuller era temporário e que ela não seria relembrada como uma figura histórica. Ainda assim, esta biografia foi a mais vendida dessa década e teve treze edições antes do final do século.
Walt Whitman publicou a sua inovadora coletânea de poemas, Leaves of Grass, em 1855 e enviou uma cópia a Emerson para obter a sua opinião. Emerson gostou do trabalho de Whitman e enviou-lhe uma carta de cinco páginas onde lhe tecia rasgados elogios. A opinião favorável de Emerson ajudou a criar um grande interesse por Leaves of Grass e convenceu Whitman a publicar uma segunda edição pouco depois do lançamento da primeira. Esta edição citava uma frase da carta de Emerson, gravada a dourado na capa: "Os meus cumprimentos no início do que será uma grande carreira". Emerson ficou ofendido por a carta ter sido revelada ao público e posteriormente foi mais crítico em relação ao trabalho de Whitman.
Anos da Guerra Civil
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Emerson opunha-se firmemente à escravatura, mas não gostava de estar no centro das atenções do público e hesitava em dar palestras sobre o assunto. Porém, deu várias palestras durante os anos que antecederam a Guerra de Secessão (a partir de, pelo menos, novembro de 1837). Vários dos seus amigos e familiares eram abolicionistas mais ativos do que ele ao início, mas, a partir de 1844, ele começou a assumir um papel mais ativo contra a escravatura. Emerson deu vários discursos e palestras e recebeu o famoso abolicionista John Brown em sua casa quando este visitou Concord. Em 1860, Emerson votou em Abraham Lincoln, mas ficou desiludido quando Lincoln se mostrou mais preocupado com a manutenção da União do que com a eliminação rápida da escravatura. Quando se iniciou a Guerra Civil Americana, Emerson anunciou que apoiava a emancipação imediata dos escravos.
Em 1860, Emerson publicou The Conduct of Life, a sua sétima coletânea de ensaios. Neste livro, Emerson "abordou algumas das questões mais difíceis do momento" e "a sua experiência nas fileiras dos abolicionistas influencia claramente as suas conclusões". Nestes ensaios, Emerson concordou fortemente com a ideia de que a guerra era um meio de renascimento da nação: "A guerra civil, a bancarrota nacional, ou a revolução são mais ricos nos tons centrais do que anos lânguidos de prosperidade".
Emerson visitou Washington D.C. no final de janeiro de 1862. Numa palestra pública no Smithsonian em 31 de janeiro de 1862, declarou: "O sul chama a escravatura uma instituição... eu chamo-a destituição... a emancipação é uma exigência da civilização". No dia seguinte, o seu amigo Charles Sumner levou-o a conhecer o Presidente Abraham Lincoln na Casa Branca. Lincoln conhecia o trabalho de Emerson e já tinha assistido às suas palestras. As críticas de Emerson a Lincoln suavizaram depois deste encontro. Em 1865, Emerson discursou numa cerimónia de recordação do Presidente Lincoln em Concord: "Tão antigas quanto a História e a Humanidade, são as suas tragédias. Duvido que alguma morte tenha provocado, ou alguma vez provocará, tanta dor como esta".
Em 6 de maio de 1862, o protegido de Emerson, Henry David Thoreau, morreu de tuberculose aos 44 anos. Emerson fez o seu elogio fúnebre. Emerson referia-se a Thoreau como o seu melhor amigo, apesar de se terem desentendido após a publicação de A Week on the Concord and Merrimack Rivers de Thoreau. Outro dos seus amigos, Nathaniel Hawthorne, morreu dois anos depois de Thoreau, em 1864. Emerson ajudou a carregar o caixão de Hawthorne quando este foi enterrado em Concord, segundo o que Emerson escreveu: "num esplendor de sol e verdura".
Em 1864, Emerson foi convidado a fazer parte da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos em 1864.
Últimos anos e morte
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A saúde de Emerson começou a deteriorar-se em 1867: ele começou a escrever muito menos nos seus diários nessa altura. Entre o verão de 1871 e a primavera de 1872, Emerson começou a ter problemas de memória e a sofrer de afasia. No final da década, havia alturas em que já não se lembrava do seu próprio nome e, quando alguém lhe perguntava como se sentia, ele respondia: "Bem, perdi as minhas capacidades mentais, mas estou perfeitamente bem".
Na primavera de 1871, Emerson viajou na Primeira Ferrovia Transcontinental, pouco mais de dois anos após o fim da sua construção. Pelo caminho e na Califórnia conheceu alguns dignitários, incluindo Brigham Young. Parte da sua viagem à Califórnia incluiu uma viagem a Yosemite, onde conheceu o jovem e ainda desconhecido escritor John Muir, um acontecimento que marcou a vida de Muir.
Houve um incêndio na casa de Emerson em Concord em 24 de julho de 1872. Ele pediu ajuda aos vizinhos e, depois de desistir de apagar as chamas, todos tentaram reaver o máximo de objetos possível. Os amigos de Emerson reuniram doações para ajudá-lo a reconstruir a sua casa e ele recebeu convites para viver em casas de amigos enquanto a sua era reconstruída, mas acabou por preferir ficar com a sua família. O incêndio marcou o fim da carreira de Emerson como conferencista e, a partir de aí, ele só dava palestras em ocasiões especiais e a públicos conhecidos.
Enquanto a sua casa era reconstruída, Emerson viajou pela Inglaterra, pela Europa continental e pelo Egito com a sua filha Ellen. Os dois regressaram aos Estados Unidos em 15 de abril de 1873. O regresso de Emerson a Concord foi celebrado na vila e as aulas foram suspensas nesse dia.
Os problemas de memória de Emerson tornaram-se embaraçosos para ele e, em 1879, deixou de aparecer em público. Holmes escreveu: "Emerson tem medo de confiar em si próprio num meio social devido às suas falhas de memória e à grande dificuldade que tem em encontrar as palavras que quer dizer. Por vezes, é doloroso assistir ao seu embaraço". Em 21 de abril de 1882, Emerson descobriu que tinha pneumonia. Morreu em 27 de abril de 1882. Emerson está enterrado no cemitério Sleepy Hollow em Concord, Massachusetts. Ele foi colocado no caixão com um robe branco que lhe foi oferecido pelo escultor Daniel Chester French.
Obras
editarAs obras em prosa de Emerson incluem:
- Nature (1836)
- "The American Scholar" (1837, um discurso na Phi Beta Kappa Society em Harvard)
- "The Divinity School Address" (1838)
- Essays: First Series (1841; inclui "Compensation", "Self-Reliance", and "Circles")
- "The Transcendentalist" (1841)
- Essays: Second Series (1844; inclui "The Poet", "Experience", e "Politics")
- Representative Men (1850; com ensaios sobre Napoleão, Platão, Montaigne, Swedenborg, Shakespeare, e Goethe)
- English Traits (1856)
- The Conduct of Life (1860; inclui "Fate" and "Power")
- "Thoreau" (1862; uma homenagem a Henry David Thoreau)
Apesar de ser mais reconhecido como ensaísta, Emerson também escreveu e traduziu poemas. A poesia de Emerson inclui:
Mídia
editarÉ dele a autoria da frase "There is no knowledge that is not power" (não há conhecimento que não seja poder), que aparece na tela inicial do jogo eletrônico "Ultimate Mortal Kombat 3", lançado em 1996 pela Midway Games.
Referências
- ↑ Mulligan, Martin (20 de novembro de 2014). An Introduction to Sustainability: Environmental, Social and Personal Perspectives (em inglês). [S.l.]: Routledge. p. 13
- ↑ Ir para:a b c Marques, Sabrina Medeiros de Farias (2018). «Aspectos transcendentalistas na Obra "Into the wild"» (PDF). Universidade Estadual da Paraíba. p. 9
- ↑ Jr, Robert D. Richardson (5 de abril de 1995). Emerson: The Mind on Fire (em inglês). [S.l.]: University of California Press. ISBN 9780520918375
- ↑ Levine, Alan (16 de setembro de 2011). A Political Companion to Ralph Waldo Emerson (em inglês). [S.l.]: University Press of Kentucky. ISBN 0813134323
- ↑ Ir para:a b Baker, Ronald J. (8 de fevereiro de 2008). Mind Over Matter: Why Intellectual Capital is the Chief Source of Wealth (em inglês). [S.l.]: John Wiley & Sons. ISBN 9780470198810
- ↑ Cooke, George Willis. Ralph Waldo Emerson. pp. 1, 2.
- ↑ McAleer, John J. (1 de janeiro de 1984). Ralph Waldo Emerson: Days of Encounter (em inglês). [S.l.]: Little, Brown. ISBN 9780316553414
- ↑ Richardson, p. 29.
- ↑ McAleer, p. 66.
- ↑ Richardson, p. 35.
- ↑ Richardson, pp. 36–37.
- ↑ Richardson, p. 37.
- ↑ Richardson, pp. 38–40.
- ↑ Richardson, p. 92.
- ↑ McAleer, p. 105.
- ↑ Richardson, p. 108.
- ↑ Journals and Miscellaneous Notebooks of Ralph Waldo Emerson. Volume I. p. 7.
- ↑ Richardson, p. 88.
- ↑ Sullivan, p. 6.
- ↑ Packer, p. 39.
- ↑ McAleer, p. 132.
- ↑ Baker, p. 23
- ↑ Richardson, p. 138.
- ↑ Richardson, p. 143.
- ↑ Richardson, p. 182.
- ↑ Richardson, p. 154.
- ↑ Emerson, Ralph Waldo (1959). Early Lectures 1833–36. Stephen Whicher, ed. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press. ISBN 978-0-674-22150-5.
- ↑ Baker, p. 86.
Bibliografia
editar- Richardson, Robert D. Jr. (1995). Emerson: The Mind on Fire. Berkeley: University of California Press. ISBN 0-520-08808-5
Ligações externas
editar

Leia mais: https://iehouah-com.webnode.page/ralph-waldo-emerson-wikipedia/
VERNON HOWARD - Wikipédia
Vernon Linwood Howard (16 de março de 1918 - 23 de agosto de 1992) foi um professor espiritual , autor e filósofo americano .

Carreira como escritor e professor
editarHoward nasceu perto de Haverhill, Massachusetts , e começou sua carreira de escritor na década de 1940 como autor de humor e livros infantis . Ele começou a falar sobre os princípios do desenvolvimento pessoal no final da década de 1950, enquanto vivia no sul da Califórnia . Na década de 1960, ele começou a escrever livros que focavam no crescimento espiritual e psicológico . Esses escritos enfatizavam a importância e a prática da autoconsciência . No início da década de 1970, ele se mudou para Boulder City, Nevada , e começou a dar aulas de desenvolvimento espiritual após ser contatado por vários indivíduos interessados em seus escritos. [ citação necessária ]
Filosofia e ensinamentos
editarHoward extraiu do que ele percebeu como sendo um "fio condutor" entre várias tradições filosóficas e espirituais diferentes para seus insights e ensinamentos. Estes incluíam: misticismo cristão e oriental , ensinamentos do Quarto Caminho de Gurdjieff , os Evangelhos do Novo Testamento , psicologia junguiana , J. Krishnamurti e transcendentalismo americano . Ele ensinou que há uma saída para o sofrimento e defendeu a auto-honestidade, a persistência, o estudo e a aplicação de princípios espirituais e um desejo sincero de mudança interior, de acordo com a Psycho-Pictography (página 34). Ele explicou que uma nova e mais elevada vida interior é encontrada através da liberação do ego condicionado negativo , que ele descreveu como o " falso eu ". Ele afirmou que esta nova vida só pode ser encontrada através da consciência, e que o ego humano é uma barreira para esta consciência. Assim, ele ensinou que a libertação interior é um processo de libertação, e que o falso eu é uma coleção fictícia de autoimagens ou imagens sobre quem pensamos que somos ( Psycho-Pictography , página 33).
Legado
editarEm 1979, Howard fundou o centro de aprendizagem sem fins lucrativos New Life Foundation, onde continuou a ensinar até sua morte em 1992. A fundação, agora localizada em Pine, Arizona , continua o legado de Howard por meio de aulas pessoais ministradas por alguns dos alunos que estudaram com Howard, bem como o marketing de seus escritos e palestras gravadas. [ 1 ]
Após a morte de Howard, várias fundações sem fins lucrativos foram estabelecidas como resultado de seus muitos anos de ensino. Mark L Butler, que estudou com Howard de 1972 a 1992, estabeleceu a Eagle Literary Foundation em Eagle, Idaho , em 1994. [ 2 ] Guy Finley, que estudou com ele de 1978 a 1992, estabeleceu a Life of Learning Foundation em Merlin, Oregon , em 1993. [ 3 ] Butler e Finley são autores e professores que continuam com os princípios espirituais aprendidos com o trabalho de Howard. Tom Russell também estudou doze anos com Vernon Howard e fundou a SuperWisdom Foundation sem fins lucrativos [ 4 ] para levar esses princípios à internet por meio de podcasts semanais gratuitos. Um "Arquivo de Trabalho de Vernon Howard" também foi disponibilizado para visualização online do espólio de uma das alunas de longa data de Vernon Howard e membro do Conselho da New Life Foundation até o momento da morte de Vernon, Concetta (Connie) M. Butler. [ 5 ]
Bibliografia
editarLivros
- Comando Cósmico
- Psico-pictografia: A nova maneira de usar o poder milagroso da sua mente
- O Caminho Místico para o Poder Cósmico
- Poder da Mente Esotérica
- O Poder da Sua Supermente
- Caminhos para uma vida perfeita
- Tesouro de Respostas Positivas
- Os Mestres Místicos Falam
- Existe uma saída
- 1500 maneiras de escapar da selva humana
- Inspire-se
- Enciclopédia Esotérica do Conhecimento Eterno
- Resolvido: O Mistério da Vida
- Seu Poder de Conhecimento Natural
- Um Tesouro de Verdade
- 700 guias inspiradores para uma nova vida
- O Poder dos Esotéricos
- Segredos do Sucesso Superior
- Segredos da Magia Mental, Como Usar Todo o Poder da Mente
- Poder de ação: O caminho milagroso para uma nova vida bem-sucedida
- Seu poder mágico de persuadir e comandar pessoas
- O Poder da Psico-Pictografia: Como Mudar e Enriquecer sua Vida com a Ajuda da Visualização Criativa ( ISBN 0 85454 026 1 , Vernon Howard, 1973)
Livretos
- Esteja seguro em um mundo perigoso
- Vença a ansiedade e a frustração
- Conquiste a raiva prejudicial de 100 maneiras
- Caminho Esotérico para uma Nova Vida
- Exponha os tubarões humanos de 100 maneiras
- Liberdade de uma vida de inferno
- Liberdade de vozes nocivas
- Como lidar com pessoas difíceis
- Viva Acima Deste Mundo Louco
- Histórias de Mistério para Conquistar a Felicidade
- Exercícios práticos para a harmonia interior
- Sexo e Namorados
- Mulheres — 50 maneiras de enxergar através dos homens
- Seu poder de dizer NÃO
- 50 maneiras de escapar de pessoas cruéis
- 50 maneiras de obter ajuda de Deus
- 50 maneiras de ver através das pessoas
Veja também
editarNotas
editar- ^ Informações da Fundação New Life
- ^ "Eagle Literary Foundation:Sobre nós" . Arquivado do original em 2016-12-22 . Recuperado em 2013-01-19 .
- ^ Entrevista com Guy Finley
- ^ Fundação SuperWisdom
- ^ Vida com Vernon Howard
- García Muñoz, Ernest.(2012) Reedição: 2024. Consciência e felicidade. Uma introdução à mística, desde o pragmatismo de Vernon Howard. ASIN: B008RMKP12 https://www.amazon.com/dp/B0CYHM9C8F?ref_=pe_93986420_774987470
- Autores Contemporâneos Vol. 108, pág. 230. Thomson-Gale, 2003. ISBN 0-8103-1908-X
Links externos
editar- Site oficial de Vernon Howard
- Retrato de Vernon Howard encostado em pilhas de seus livros de autoaperfeiçoamento, 1965. Arquivo Fotográfico do Los Angeles Times (Coleção 1429). Coleções Especiais da Biblioteca da UCLA, Biblioteca de Pesquisa Charles E. Young , Universidade da Califórnia, Los Angeles .
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